quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NO ANO QUE VEM...

Ainda outro dia nos preparávamos para o final do século XX e início do século XXI. Lembram-se do bafafá que foi o tal de bug do milênio. Empresas gastaram os tubos para reprogramar os computadores. Além dos boatos do fim do mundo. Em que só os mais néscios ainda acreditam. Dizem agora que será em 2012. Com licença dos atleticanos, está parecendo o próximo título do galo. Só que nesse pelo menos eles acreditam.
E já emplacamos quase um decêndio do novo século. Só que essa estória do fim do mundo está ganhando ares de seriedade. E tudo por culpa de uma espécie que habita esse planeta. Que se elegeram reis da criação e sempre foram os reis da destruição. Certa feita cheguei até a pensar que nossa espécie humana não seria originária da terra. Pois todas as outras formas de vida formam uma cadeia alimentar e fazem existir um equilíbrio perfeito na natureza.
Só o homo sapiens age estupidamente, destruindo tudo por conta de uma ganância acumulativa. Geração de riqueza. Com a desculpa de que a riqueza traz felicidade. Ou cinicamente porque a riqueza vai trazer bem estar a todos. A todos que ficam ricos explorando a mão de obra dos outros.
Igualzinho a posse da terra. Quem chegou primeiro ficou com tudo que pode pegar. Aliás, não foi nem quem chegou primeiro. Foi quem tinha a força ou a falta de escrúpulos. Porque os primeiros
já estavam aqui. E agora para demarcarem umas áreas bem longe de onde estavam é esse espicha-encolhe sem fim. Pra que tanta terra pra índio. Índio é preguiçoso. Não era. Ficou por culpa de quem queria suas terras, suas mulheres, seus minérios, sua alma.
Mas abandonei minha mal formulada tese da alienigeneidade do homem. Talvez à procura de mais argumentos. Pode ter sido apenas aquela estorinha da maçã no paraíso. Que os mais afobadinhos pensam logo que foi sexo. Cambada de bobos. Como é que iriam se reproduzir então? A maçã representa a conquista da razão. O raciocínio. A personalidade. O diabo mesmo teria dito a Eva vocês serão iguias a deus. E deus transa? com quem? Então, pode ser que o homem tenha tido sua origem aqui mesmo. E com a aquisição da razão se arvorou em senhor de tudo e saiu chutando o balde.
E agora, José. O clima desandou. A camada de ozônio furou. O calor aumentou. O ártico descongelou. O mar vai se levantar e o sertão vai virar mar e o mar vai continuar a ser mar mesmo. Isso se não escolherem maneira mais rápida de acaber com tudo.
Mas enquanto isso não acontece, que esse ano de dois mil e dez seja melhor ao menos um pouquinho do que o moribundo dois mil e nove.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

MARIAS DE TODOS NÓS

Maria Mercedes, Maria Amália. Duas Marias, entre muitíssimas. Cada uma seguiu seu caminho e se encontraram no mesmo dia. No seu último dia.
Uma virou tia Zinha. A tia de todos, a tia que todos quiseram ter.
A outra foi sempre Maria.
Professora na escola da Onça, um dia convidou um garotinho de cinco anos para entrar na sua escola. Entrar, ele não entrou que a fama da professora era de ser muito braba. Mas ela falou com tanto carinho que o menino ficou balançado. E o menino andava num macacão de flanela vermelha, nas manhãs frias e o chamavam de Zé capeta. E a professora parece que estava disposta a cuidar dele no meio de seus outros alunos, todos maiores do que ele. Só que o menino pesou os prós e os contras e ficou com sua liberdade. Abriu mão do carinho. Mas nunca se esqueceu dessa tentativa da professora tia Zinha. E toda vez que a via, vislumbrava a cena de uma professora jovem, na janela de sua sala/escola de aula, fazendo pontas nos lapis dos alunos e dizendo pra ele você não quer entrar pra minha escola?
Depois sua vida mudou. Foi ser a tia de muitos outos meninos e meninas noutra escola maior. Tia virou mais tarde, porque na época era professora. Quando as professoras viraram tias ela já era tia de verdade e de familia. Passou a ser tia Zinha da cidade inteira. Uma cidade quase só de primos e de primos dos primos que acabam virando primos dos primeiros primos. Assim os tios de uns se tornam tios de todos.
Aquele carinho que o garotinho cismado negou-se a aceitar ela descarregou todo no seu garotinho. Que ficou só, sem irmãos, para aproveitá-lo bem, todinho só para ele.
Agora ela foi se encontrar com o seu seresteiro. Juntos, agora podem ficar mais perto daquele que era tudo para eles. Pois ele não foi viver longe? Cadê distância agora? estão todos três ali ao alcance uns do outro.
Na sua religiosidade sabia que santo é todo aquele que alçança a graça sublime de "contemplar" a divindade. Mas só recebem esse título uns poucos escolhidos para servirem de exemplo aos demais. E quem recebe o título, ganha também um dia que lhe é dedicado. Vejam então a sabedoria do fato. Será muito difícil um processo de canonização para se ganhar um dia em que se comemore sua santidade. Então o destino resolveu a questão. Elas se despediram da matéria no dia de Todos os Santos.
Santa tia Zinha, rogai por nós!
Santa Maria Amália, rogai por nós!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CONFERENCIA NACIONAL DE CULTURA

No dia 31 de outubro será realizada no Colégio Estuadual Liberato de Castro, em Marliéria a primeira Conferência municipal de Cultura, dentro do plano do Ministério da Cultura para relização da Conferência Macional de Cultura. Início às 13:00 h.
Todo mundo está convidado, quase intimado a comparecer e participar.
Fui convidado para apresentar algo a respeito da Produção simbólica e diversidade cultural. Apesar de estar tremendo de medo, pois nunca participei de nada disso, resolvi, ou como diziam nossos conterrâneos, arresolvi encarar o bicho. Estou aqui pelejando para encontrar alguma coisa para falar que não me deixe muito envergonhado depois.
Por falar em "pelejando", era muito usado esse termo quando era mais novo. Havia até aquela brincadeira do Liberato Assis, o Liberatão. Quando fizemos o primeiro ano Normal e ele não fazia a tarefa, principalmente na aula de Português, e o professor o chamava na regulagem, ele dizia: ah, professor, pelegi, pelegi, não consegui, largui.
Mas é que acabei de ler um livro em que o tradutor emprega pelejar nesse mesmo sentido de tentar fazer alguma coisa ou de trabalhar. Já estava achando até que esse verbo havia caído em desuso, pelo menos nesse sentido. Mesmo como lutar ele é bem pouco empregado. Parece que ficou restrito às antigas pelejas de lanças e espadas. O que, aliás, tem algum sentido. Pelejar é se esforçar. As lutas antigas exigiam bem mais esforço físico. Apertar o gatilho era bem mais fácil, apesar de toda a complicação que envolvia. Agora, então, só apertar botões e bombas voarem por todo lado...
Mas eu tnho de pelejar com teclas e papeis para ver se sai alguma coisa aproveitável no dia 31.

sábado, 10 de outubro de 2009

HOMENAGEM AO MAIS NOVO ESCRITOR BABILONICO

PARA O MESTRE COM CARINHO

Vai perguntar ao Jurandir. Jurandir que sabe.
Houve uma época, nesta cidade, que esse era o bordão mais usado. Qualquer assunto, em qualquer lugar, quem quer que fosse, se alguém não tinha resposta para determinada pergunta, saia-se com essa: pergunte ao Jurandir, Jurandir que sabe.
Professor de geografia do Colégio, desde antes de existir o colégio. Quando os futuros alunos ainda se reuniam na sacristia da Igreja a fim de se prepararem para o exame de admissão ao ginásio. Jurandir estava lá, juntamente com outros abnegados pioneiros, sem saber se algum dia aquele sonho do Otacílio ia se tornar realidade. Sem perguntarem por salário. Pensando apenas naquelas pessoinhas que, sem esse esforço deles, não teriam a menor chance de estudar. Em suma, não poderiam romper aquele círculo vicioso de irem os rapazes abraçar os cabos das enxadas, foices e machados. Restava uma outra possibilidade que era ir trabalhar nas famosas companhias. Mas sem diploma pelo menos ginasial o destino era trabalho braçal, sem perspectiva de progresso. As moças se prepararem para o casamento, aprendendo, quando muito, a bordar, cozinhar e outras atividades domésticas. Não que essas profissões não tenham a sua dignidade. O problema era não se ter a oportunidade de mudar isso, se quisesse.
O colégio se tornou realidade e o professor continuou em seu ministério de ensinar, de ajudar na formação intelectual e moral de levas e levas de jovens. Muitos, da base sólida recebida, puderam alçar vôos bem mais longos do que os que lhes estavam prometidos.
Nosso professor Jurandir se transformou em sinônimo de cultura, de sabença geral.
Eis que vem nos brindar com essa obra sobre nossa cidade. Lacuna que agora está sendo preenchida por quem tem competência para fazê-lo.
È tamanha a ansiedade para bebermos nestas páginas todas as maravilhas que você nelas inseriu que não suportamos mais delongas. Que nos sejam distribuídos seus livros, como dizia o poeta: livros a mãos cheias.
Professor Jurandir você é um patrimônio nosso. Parabéns!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

TREM BÃO É COISA BOA!

Quem não se lembra do Admilson (ou Edmilson?), irmão do Joaquim Suruco? Foi nosso goleiro no tempo do MEC (Marlieria Esporte Clube), com camisas do Fluminense do RJ. Atuava quando o Zé de sr.Zé Júlio bebia muito no sábado e não aparecia pra jogar no domingo. Que o Edmilson, convenhamos, era meio atabalhoado. Tinha jogo que fechava o gol, apesar de sua pequena estatura. Também as traves do nosso campo não eram lá muito oficiais. Mas tinha jogo que era um verdadeiro galinheiro...
Engraçado que ele era reserva do seu almejado cunhado. Ele era doido pela filha do Sr. Zé Júlio ( me esqueci do nome dela. Podia chutar qualquer nome, mas aconteça que alguém da época leia essas mal traçadas linhas e a confusão estará formada. Só me lembro que ela era bem bonita e o Edmilson tinha bom gosto), que não queria nem saber dessa conversa. Conclusão: fugiram e voltaram depois "que a inês fora morta". Tiveram que casar. Na polícia e na Igreja que eram todos dois solteiros e depois de uma boa confissão não havia padre que não santificasse a união.
Mas esse lenga lenga todo é só pra recordar que a frase que intitula essa matéria é de sua autoria.
E essa frase agora está na moda em Babilonnia, doravante com dois ns pra ficar mais etimológico.
A feira dos produtores está pegando que é uma beleza. A cidade está se mexendo. No próximo sábado (10/10/09) teremos lançamento do livro "ETA BABILONNIA" de autoria do professor Jurandir. No outro sábado (17/10/09), festa da Rosa no bairro Bela Vista, antigo morro dos cabritos. No dia 11/10, o bar Jacroá, com espaço para as crianças, na área da Exposição.
Vamos em frente que atrás vem gente! Trem bão é coisa boa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CORRIGINDO

ATENÇÃO: - O lançamento do livro do professor Jurandir de Marliéria será no dia 10 (dez) de outubro, às 14:00 h, no Colégio Liberato de Castro. Outro dia anunciei o evento para o dia 11/10/2009. Foi um lapso. Denise ficou sabendo que seria no sábado e se baseou no calendário de 2008. Daí a confusão...
Mas, agora, já vi o convite e confirmo a data de 10/10/2009.
Não percam. Tive uma palhinda do livro. É saboroso e histórico. Ele pesquisou e transcreve documentos de época, além de escrever com um estilo leve e agradável, com um toque de humor.
Quero ver aquele colégio cheio no dia 10.
Para quem não puder comparecer, depois da cerimônia colocarei neste espaço os dizeres da homenagem que lhe será prestada.
Até sábado!.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

JURANDIR EM BABILONIA

No dia 11 de outubro, domingo, vai haver a cerimonia de lançamento do livro que o professor Jurandir de Assis Castro escreveu. Será realizada no Colégio Liberato de Castro, às 14:00 h.
Certa vez ele me mostrou uma pesquisa que estava fazendo sobre a genealogia de quase todas as famílias de Marliéria. Não sei se é esse o assunto do livro. No convite que ele mandou distribuir, segundo me disseram, há a informação que o título é: Eta Babilonia. E trará a história da cidade e causos.
Denise vai fazer uma homenagem ao professor pioneiro. Prometo publicar nesse blog o que ela irá dizer ao prof. Jurandir.
No entanto, convido a todos que estão lendo para convidarem conhecidos e amigos e virmos todos prestigiar o nosso querido Jurandir e mostrar que cultura também é importante.
Até lá.
Aroldo Valsi.

sábado, 19 de setembro de 2009

O AMERICA NAO E SO PARA OS AMERICANOS

Quem gosta de esporte não podia ficar indiferente. Para maior comodidade, a emissora de TV dos mineiros transmitiu a partida. Certamente a poderosa Globo não se interessou pela serie C que deve dar poucos dividendos. Foi a nossa sorte.
Apesar de não ser americano, fiz questão de sustar o que deveria fazer para me sentar em frente da fabriquinha de doidos e torcer pelo segundo time de todos nós.
Admirável a garra dessa torcida que passeia pela serie A e desce para a B e cai para a C e cai para a B até do capeonato mineiro e conseguiu voltar para a elite do futebol de Minas. Agora começa a luta para voltar à elite do brasileiro.
Os torcedores do coelho, sofrendo, apanhando, caindo não desanimaram. Alguns até já dizem que em 2012 vão disputar o mundial em Dubai...
Convivo com dois americanos. Um é de quatro costados. O outro perambulou pelo galo, tentaram fazê-lo cruzeirense, mas acho que de tanta pena do pai (gozação, viu Bernardo) acabou torcedor do time do Independência. E sinto um pouco de culpa pelo sofrimento dessa torcida. Conto essa história.
Naquele ano em que o Galo também provou da descida para a serie B, o América já estava na serie B do brasileiro, mas ainda jogava na seire A do Mineiro. Se não estiver enganado, no primeiro jogo do campeonato mineiro o América enfiou 4 x 0 no Cruzeiro e o pai veio me gozar. Aí, fiz ar de mistério. Assumi a pose de grande profeta e lancei a praga: Ces vão cair para a serie C do brasileiro e o Galo cai para a serie B, ficando cada um numa serie. Vejam que o campeonato brasileiro nem tinha começado. E não deu outra. Acreditem que fiquei até assustado com minha língua. Depois disso nunca mais fiz profecia nenhuma que fosse negativa, acho que nem positiva.
Carreguei essa culpa até hoje. Que o América só agora conseguiu vencer minha praga. Já tinha desfeito a profecia mas foi tão forte que durou cinco anos.
Porisso, hoje torci pelo título porque ficaria bem mais bonito com a taça.
De qualquer forma, estão de parabéns pela fidelidade e por terem enchido o campo hoje. Assim desfizeram aquela piada que a torcida do América cabe numa kombi. A não ser que os outros onze mil torcedores tenham sido, como eu, quem tem o América em segundo lugar no coração.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MANUEL ABORDE

Quando ele chegou em Babilonia eu era menino e ele veio para terminar de construir a Igreja Matriz. Na verdade, ele sempre foi Joaquim Claudino Filho. Não sei de onde veio esse apelido. Nunca me lembrei de perguntar.
Seria uma corruptela de "a bordo"? Aquele que está sempre por dentro de tudo. Estar a bordo é igual a estar dentro do navio, portanto dentro. Transpondo o sentido, estar dentro é o mesmo que entender de tudo, saber fazer tudo. Diziam os antigos o homem dos sete instrumentos ou dos sete ofícios.
Mas isso não interessa. Só curiosidade. O que importa é que chegou aqui, se não me engano, trazido por Otacílio para dar conta de terminar a Igreja e terminou. Mais importante, virou marlierense. Obra da Ana? Da sua Ana?
Porque, chegando em Babilônia, ele encontrou a Ana. Lembro-me, no espaço que sobrara em frente da pequena parte que restara da Matriz antiga, as moças, de vestidos longos e rodados, se assentavam no gramado com a saia inflada pela anágua engomada cobrindo as pernas e os pés. Eu achava a coisa mais linda. E a mais linda delas era a Ana.
Logo comecei a ver os dois sempre juntos. Com o Otacílio na cola dele, daí ao casamento foi um pulo. Aí, não teve mais jeito. Casou com moça de Babilônia, vira babilônio. E virou.
Durante toda sua vida trabalhou no que queria ou cismava de querer. Criou família grande e bonita.
Um dia, já sem a Ana, conversando, porque gostava do seu papo, ele me confessou que ela tinha sido a mola de sua vida. Foi ela que o fez largar a boemia e acertar a cabeça. E agora que estavam reformando a casa. Que tinham planos de fazer um segundo andar, um apartamento só para eles, ela não foi partir e deixá-lo desanimado de continuar aquela empreitada?
E ficou triste. E naquele dia vi lágrimas em seus olhos e a voz se embargou quando falou nela. Era amor que o estava consumindo. Mas consumia só o corpo porque a alma, acreditando ou não, ele tinha a intuição que estaria vivinha para encontrar a alma da Ana, quando chegasse o tempo.
Esse tempo chegou. Quando olhei para ele na hora da despedida ouvi direitinho ele sussurrando, Courinha já achei a Ana. Agora está tudo perfeito. Felicidades eternas para vocês dois, Ana e seu Mané.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ENCONTROS DE FAMILIA

Podem tirar os cavalinhos da chuva, quando a chuva chegar, que, hoje, não vou ficar me desculpando por ter ficado tanto tempo sem comparecer a esse blog.

Esse mês que se encerrou e o principio desse que se inicia parece ter sido a época escolhida por todos para se encontrarem. Os já ficando famosos Encontros de Família. Deve ser para aproveitar as férias escolares de julho. Que atualmente nem chegam a ser férias de verdade. Pouco mais de uma ou duas semanas. A não ser, é claro, quando desaba sobre nossas cabeças alguma catástrofe como essa gripe de espírito de porco. Aí vão adiando o retorno às aulas, como se isso resolvesse alguma coisa. Como se catástrofe muito pior não estivesse constantemente nos rondando. Refiro-me a essa corrupção generalizada que se entranhou em nossa sociedade.

Se a coisa está tão fétida na elite política é porque todo mundo está conivente. Eleição vem, eleição vai e os mesmos vermes de sempre continuam aboletados no poder. É falta de vergonha nossa. Se cada um que está indignado com a situação se propusesse a acender seu palito de fósforo convencendo pelo menos mais um a não votar em nenhum candidato contra quem houvesse a menor suspeita, esses sarneis da vida já estariam fora do poder.

É, não adianta. Se não se partir para a educação consciente da população, isso não vai mudar nunca. Educar não é dar conhecimento. É formar o cidadão. Despertar o espírito crítico. Analítico. Fazer com que a pessoa aprenda a ler nas entrelinhas. A ouvir, percebendo os interesses escusos por trás dos discursos, que nem bonitos não são mais. Quase sempre agressivos e depreciativos. Candidato que fala mal de adversário, pode desconfiar que está sentado na própria cauda, vamos ser elegantes.

Olhem só a curva que estou fazendo. De encontros de família já cheguei no Senado Brasileiro.

Só que a família é a célula “mater” da sociedade, não nos disseram isso? Até o Rui Barbosa do alto de seu metro e meio carimbou essa afirmação como verdade absoluta. Então, olhando a realidade, nossas células estão cancerosas.

Nessas sociedades secretas de aperfeiçoamento pessoal ensinam que “assim como é em baixo é em cima”, só há um aumento de dimensão. Não será isso que está acontecendo? A moral da família se degradou. Não estou me referindo a sexo. Estou me referindo a moral de verdade que é a honestidade, a retidão, enfim, o caráter. Há muitas décadas, os pais faziam questão que os filhos fossem honrados. Hoje, há exceções, querem que os filhos se dêem bem na vida. O que é dar-se bem na vida? Na tosca mentalidade de muitos é “ganhar dinheiro”, ou, às vezes, muitas vezes, na quase totalidade das vezes, é parecer que “ganha muito dinheiro”. É a exibição barata.

Para isso chegou-se ao vale tudo. Tem-se vergonha de ser honesto. Interessante, citei Rui Barbosa há pouco, e ele também já dizia isso um século atrás. Será que não mudou nada? Mas pode mudar. Nossos congressistas sempre foram corruptos, desde sempre? Mas também eles podem mudar.

Vamos começar pelos encontros de família. Quando os membros das famílias se entenderem e entenderem que ser honrado é respeitar o direito dos outros e não querer ser mais ou maior por meio de fraude, teremos caminhado bastante na estrada da melhoria da nossa sociedade.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PADRIM HENRIQUE E TIA MACRINA

Meu padrinho arrumou para eu ir para Ponte Nova com Nanoca e Carmen para ser irmã. Mas meu pai e minha mãe não deixaram. Eu queria ser irmã de caridade. Ouvi essa história desde pequeno. Quer dizer que estou aqui por acaso. Graças ao Padrim Juca e Dindinha. Nunca fui tão grato aos meus avós...
Ela está aqui, na cadeira de rodas, me olhando com seu rosto sério, incomunicável. Me soprando o que devo escrever. Tinha verdadeira adoração por aquele padrinho. Morou em sua casa para frequentar as aulas na escola da tia Macrina.
A madrinha era a Isabel, irmã do pai dela. Só voltava para a casa dos pais nos finais de semana. Depois foi ficando. Aprendeu a costurar, bordar, quase a viver, na casa do padrinho. Chegou até a lecionar na escola da tia. Coisinha pouca. Só para marcar época na vida de alguns alunos. Nonô de Rolica e Jésus de Oliveira nunca se esqueceram. Sr. Jésus fala mesmo que gostava muito mais dela do que de sua própria irmã, Maria de Oliveira, que era muito má com ele. Era a vara que falava alto e tinha de se ajoelhar nos grãos de milho. Também era muito moleque. A Dininha era boazinha, não aplicava esses castigos. Nonô guardou, até hoje, um catecismo que ganhou de lembrança quando fez a primeira comuhão. Só se desfez dele por causa da insistência de um certo indivíduo.
Mas o padrinho marcou sua vida. E foi lá, em sua casa, que conheceu o impedimento maior de sua vocação religiosa. Onde rezavam o terço, à noite, antes de dormirem. E não gostava quando ele falava sobre o lado pitoresco desse hábito. Tentou incutir, não sei se com êxito, sua filosofia e senso de justiça: a cada um o que é seu. Sua bondade e coração mole de ajudar a quem precisasse e acolher todos debaixo de suas asas. Da tia Macrina tentou incorporar as prendas domésticas, a angélica capacidade de absorver as contrariedades, o supremo dom de apaziguar e a imensa paciência para aguardar a felicidade e o término da dor. Implantou a devoção de rezar o terço, à noite, também em sua família, que só durou enquanto os filhos eram pequenos.
Mas a devoção pelo padrinho, não. Essa permaneceu enquanto esteve lúcida. Talvez agora, ainda mais. Quando o olhar se perde no espaço vazio e as mãos se agitam vagamente, será que não está pedindo a bênção? Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, meu padrinho!

terça-feira, 7 de julho de 2009

CISCANDO DAQUI E DALI...

Estou abismado com a minha falta de comprometimento com esse blog. Já está quase completando outro mês sem postar nada. E o número de seguidores andou sofrendo alteração. Já são quatorze. Mesmo se tirar aqueles seguidores de carteirinha, ainda existem muitos amigos que devem estar quase se arrependendo de terem se cadastrado. Vou prometer ser mais presente dagora pra frente.

Mas hoje quero falar de uma lição de vida. Quando a "gente era criancinha pequenininha lá em Barbacena" - alguém ainda se lembra desse bordão? ( pergunta endereçada a uma parte dos leitores, tipo meia idade) - os dias, meses e anos tinham uma preguiça bahiana de se sucederem, parecendo certo escrivinhador de blog. E a gente doido para o tempo passar e chegar os quatorze, os dezoito e até os vinte e um anos. Impróprio para quatorze, para dezoito. Carteira de motorista. Namorar. É, tinha idade até para namorar. Engraçado. A gente não podia namorar, mas não havia jeito de proibir a gente de se enamorar.
Era só entrar na fase do vinte e um e os anos começavam a disparar. Vinte e cinco, mais ou menos. Trinta, já dá pra ficar desconfiado. Quarenta, cinquenta. Nossa, nem vi o tempo passar. Como se o tempo passasse... modo de dizer. E se começa a não querer embarcar nessa onda. Uns se escondem. No trabalho, nas lamentações. Mas, felizmente, tem gente que encara. Tipo aquela poesia de Olavo Bilac que todo mundo recitava no nosso antigo primário. A árvore. Olavo Bilac. No finalzinho envelhaçamos como as árvores envelhecem, Quer dizer, dando pelo menos sombra, pois frutos não podem dar mais. Ainda bem que o Bilac não se lembrou de falar em lenha. Vejam como o poeta era, já naquela época, um grande ecologista. Porque tem também o lance dos ninhos de passarinhos.
Pois é, Outro dia nos demos de cara com uma árvore do Olavo Bilac. Árvore no futuro. Agora ainda é um arbusto, que árvores de lei chegam aos duzentos, trezentos e tal. Existem algumas com mais de mil. Matusalém floral.
Inai chegou aos sessenta fazendo festa. Dizendo alto e bem sonante que agora é que vai começar mesmo a viver. Missão bem encaminhada. Sem obrigatoriedade de horários. Tempo de colheita. Carinho de irmãos, filhos e sobrinhos, sem esquecer dos primos e amigos.
Vejam que interessante. Inai nunca vai ficar velha, nem idosa. Se você passa pelo tempo sem deixar que as rugas se agarrem na alma, não tem como sentir as suas tão famosas marcas. Mas ela é predestinada até no nome. I N A I. O A é a peça chave. Observem que esse A pula o N e ela fica INAI de trás pra frente. E de qualquer lado que se olhar é INAI, enquanto esse A entrar na brincadeira e continuar pulando o N pra frente e pra trás.
Parabéns, Inai, e obrigado pela lição. A partir de agora também sou um jovem sexagenário.

sábado, 13 de junho de 2009

NAMORADOS, UNI-VOS.

Foi ontem e não pude escrever. Também estava completando um mês da última postagem e ia parecer que era apenas para não perder o trem das onze. Ficou para hoje e hoje o moden da claro funcionou. Estou em Babilonia.

Mais importante. Hoje fui participar da comemoração dos sessenta e cinco anos do casamento do tio Raul e tia Milza. Pioneiro da Usiminas. Pioneiro da vida. Como disse o Sô Lito, outro pioneiro, Raul nasceu muitas vezes. Quando sobreviveu à queda na tacha cheia de melado de cana fervente, a macabra viu que a parada contra ele não seria fácil. Mas a coisa feia não desistiu. Empurrou-o serra abaixo. Não adiantou. Aí, virou o disco. Começou a persegui-lo economicamente. Mas ele também não desistiu. Voltou de Nova Era com os bolsos vazios, mas com as mãos segurando as maozinhas dos filhos pequenos. As mãos estavam cheias. Não há nada que dê mais coragem do que maozinhas de crianças, ainda mais se forem de filhos ou netos. Depois de um período tentando ser fazendeiro foi construir a Usiminas. Depois se doou a Usiminas. E lá terminou de criar sua família. Hoje colhe tudo que plantou. Filhos, netos, bisnetas, irmaos, cunhados, sobrinhos e amigos para aplaudi-lo, paparica-lo e dizer queriamos ser iguais a vocês.
Mas é aí que o bicho pega. Para chegar perto do sucesso do tio Raul é preciso fazer como ele fez. Saber dar a volta por cima dos insucessos. Persistência. E todas as sete virtudes. E outras além das sete. E juntar tudo numa palavrinha só amor. Que começa paixao e continua se apaixonando pela vida afora, acrescentando amizade, compromissidade, companheirismo, fanatismo. Quando alguém é fã do seu amor core o sério risco de ter um amor para sempre. O que mata o amor é a decepção. Ídolo não decepciona fã.
É muito simples. Observem os casais que deram certo. Um sempre fala do outro com carinho, admiração e ternra. Se isso acabar, acabou.
Namorados, porque já combinamos que enamorados não existem, são apenas a primeira fase do namoro, mirem-se no exemplo de tio Raul e tia Milza e em outros se os encontrarem.

terça-feira, 12 de maio de 2009

LST CAP. I - O CAÇADOR DO SOL - Continuação.

- Eu era o Sovidio. Os mais velhos devem se lembrar de mim. Talvez, seus avós.
Estranho. Que nem acontecia com o pleco. Era só pensar e ele respondia. Aliás, nem respondia. Ela mesma é que pensava a resposta. Porque não ouvia som nenhum. A resposta parecia que estava dentro dela. E mais esquisito ainda é que a resposta continuava acontecendo mesmo quando divagava naquelas outras considerações. Parecia um sistema com dois canais. Mais ou menos como o som estereofônico. Enquanto pensava, continuava percebendo as explicações do Sovidio. Só que cada qual distintamente. Não havia superposição.
- Eu amava muito esse lugar, apesar de não ser daqui. Vivi aqui por muitos anos, na minha velhice. Sentia que as pessoas gostavam de mim. Havia, é claro, alguns que me consideravam maluco. Mas, talvez por isso mesmo, ninguém me hostilizava. Às vezes, percebia uns olharzinhos de deboche, outros, de comiseração. Essa palavra você conhece. Apareceu naquela crônica que vocês leram na aula, outro dia, e você perguntou à professora. Depois viu que deu bandeira porque o sentido era claro. Se a pessoa estava sofrendo e o autor sentiu comiseração, não precisava nem perguntar o significado. Era só raciocinar, não é mesmo? Mas a gente só aprende quando percebe os próprios erros.
O outro canal funcionou de novo. Como é que ele sabe disso? Será que ele sou eu mesma? E ele continuava.
- Estranhavam quando eu dizia que ia buscar o sol. Riam, com paciência, quando lhes mostrava as pedras preciosas que eu encontrava nos morros da cidade. Só depois foi que eu entendi o porquê. Eu vivia noutra época. Meus avós foram escravos e trabalharam na cata de ouro e pedras preciosas. Quando pequeno, ouvia suas histórias e elas ficaram comigo. Agora quero repassá-las para você. Porque eu vivia noutra época? Eu quis apagar aquelas lembranças porque sabia que se falasse delas ia provocar um reboliço tão grande que tive medo de causar a destruição da região em que vivia. A ganância e a insensatez das pessoas são muito maiores do que o que é realmente importante. Quando percebi que se revelasse umas coisas que eles me contaram ia ser uma loucura, fui ficando preocupado. Comecei a pensar só naquilo e, com o tempo, passei a resmungar meus pensamentos. Aí diziam que eu estava conversando sozinho. Quem conversa sozinho é doido. Na verdade, as pessoas que se julgam normais acham que se está conversando com alguém imaginário, com um produto da própria cabeça. Em suma, com alguém que não existe. Quem conversa com o inexistente só pode ser louco. Eu mesmo comecei a acreditar que era maluco. E fui abandonando tudo. Meu trabalho, minhas preocupações e me afastando de minha família.
_ Quando percebi estava sozinho no mundo. Aí, virei andarilho e rodei meio mundo. Até que, já velho e cansado, vim parar aqui. Adotei esse lugar e sentia que fui adotado também. Você está pensando, se essas histórias podiam ter causado uma destruição, será que agora não provocariam mais nada? Ou ele vai me contar essas coisas e me pedir segredo? Por quê? Para que? _ Você é questionadora, não? É por isso que procurei você. Gosto de quem não aceita o que lhe dizem sem questionar. Engolidores de sopas não percebem o que estão comendo. A boca e a mastigação são os questionadores do sistema digestivo. E a dúvida, a procura das causas, os porquês são os vigilantes do conhecimento verdadeiro. Quem não questiona não aprende. Só acumula. E acumulação pode trazer coisas boas, mas traz muito lixo também.
Nisso o raminho, em que estava, começou a balançar perigosamente e Grace acordou assustada com um ventinho frio entrando pela janela, sacudindo a cortina. Levantou-se apressada e se arrumou para ir à aula. Nem olhou para o lado do aquário. Se tivesse olhado...
Ao lembrar-se da referência ao aparelho digestivo, à boca e à mastigação, sentiu uma coisinha roendo por dentro. Gente como estou com fome! Aquele pleco que fique me esperando.
Seus dois irmãos, impacientes, esperavam para almoçar. A mãe só admitia que as refeições fossem feitas com todo mundo junto. Dizia que sua mãe também fizera assim com ela e os irmãos. Na época, achava uma bobagem de mãe. Depois que teve seus filhos, entendeu que é a coisa mais certa. Era o momento mágico em que se diziam as coisas mais diversas possíveis. Traçavam-se planos. Trocavam brincadeiras. Às vezes, umas rusguinhas também. Mas isso é inevitável. O que não aceitava era ficar cada um no seu canto, como se fossem estranhos.

domingo, 10 de maio de 2009

LST CAP. I - O CAÇADOR DO SOL - Continuação.

Com o aquário em seu quarto, Grace passou a entabular longos papos com o pleco. Foi assim que ela começou a acreditar que a energia é o princípio de tudo. Os pensamentos são emissão de energia. Uma energia muito especial. Quase uma onda de rádio. Cada um tem sua freqüência própria e é por isso que umas pessoas não captam os pensamentos das outras. Senão seria uma confusão enorme. Imagine, na sala de aula, a professora perceber que a gente está a quilômetros de distância... ainda bem.
Um mistério persistia, no entanto. Como explicar que um simples invertebrado também pudesse emitir energia? Pensar não é privilégio dos seres humanos? Será que o pleco era algum tipo de extraterrestre?
Todos já haviam percebido a mudança de comportamento da Grace. Não estava mais participando das atividades que antes adorava. Nem ia mais ao treino de vôlei. Acabaram as partidas de queimada na rua, na porta da casa da Márcia.
Já corria de boca em boca que a Grace apanhara uma ninfa no ribeirão das Piteiras e a conservava num aquário, no seu quarto.
A professora, apesar de condenar a captura de um espécime da fauna natural, elogiou seu espírito científico. Disse mesmo que se ela continuasse tão interessada em pesquisar, poderia se transformar numa grande cientista. E o mundo está precisando muito de cientistas. Em todas as áreas do conhecimento humano.
E realmente, ela não perdia tempo. Tanto morrinhou que seu pai acabou tendo que, mesmo a contragosto, dizendo que a situação financeira estava ruim, conseguir uma conexão com a internet para ela e os irmãos também, ele frisou bem. Não era grande coisa. Sua cidade não tinha ainda um sistema de conexão como os que apareciam nas propagandas. Funcionava por meio de ondas de rádio. Dava muitos problemas e a velocidade também não era animadora. Mas os mais velhos viviam dizendo que quem não tem cachorro, vai à caçada levando seu gato mesmo. Bobagem, hoje não se pode mais caçar.
Com muito custo, exercendo a autoridade de primogênita, contra a vontade dos irmãos, conseguiu fosse instalada a máquina em seu quarto. Os irmãos, um pirralho de dez anos, o Tomás, e o caçulinha, Leonardo, com cinco anos, cerraram fileira e queriam o computador no quarto deles. Ora se enxerguem. Teve de ceder também. Tom, que já estava se iniciando em informática na escola, teria uma hora por dia para treinar, mas sob a supervisão da Grace. Leo empirraçou e ficou combinado que ele também teria direito. Depois iriam estudar um jeito de ele começar a aprender com a irmã. Ao menos de brincar. E a paz voltou a reinar
Grace mergulhou nas pesquisas. Descobriu que o plecóptero é muito usado como isca em pescarias. Existem muitos saites de pescadores onde trocam informações sobre esses insetos. Onde encontrá-los. Para que tipos de peixes são indicados. Já sabia que eles exigem uma água de boa qualidade para colocar seus ovinhos e perpetuar a espécie. Foi por isso que a professora os levou para tentar encontrar esses bichinhos. Ao menos aquele trecho do ribeirão ainda estava em bom estado. Entre a nascente e a cidade, num lugar em que ele ainda não recebera os esgotos. Depois do local em que o coitado fora obrigado a aceitar toda aquela porcaria produzida pela população não havia mais plecóptero que resistisse.
Numa noite especial, que mudaria toda sua vida, o pleco, já chamado carinhosamente de plequinho, lhe fez revelações perturbadoras.
Na verdade ele tinha a forma de um inseto, mas a sua personalidade era de um homem que existira naquela região há muito tempo. Grace sentiu uma gota de gelo explodindo na parte alta de sua cabeça, onde se diz que as crianças novinhas têm a tal moleira. Que, segundo crendices populares, é por onde penetram nos miolos dos pequeninos os bons e os maus instintos. Motivo pelo qual não se pode ficar falando coisas ruins perto delas. Muito menos brigar. Xingar uns aos outros. Essas coisas todas condenáveis. Que isso vai se incorporando nelas e depois, quando crescerem, viram isso que temos visto por aí. Por que, nessa idade, elas escutam mais pela moleira do que pelos ouvidos. A gente não vê nenenzinho às vezes chorando ou dando gargalhadas sem que ninguém esteja conversando com ele? Dizem que elas percebem até os pensamentos das pessoas. Se alguém olha uma criancinha e diz que ela é uma belezura, mas lá no seu íntimo pensa que nada tão feiinha como o pai, até tem uns traços da mãe que não é de se jogar fora, só que, coitada, herdou aquela boca grande. O nenê já abre a boca a chorar.
Aquela pedra de gelo que pareceu penetrar em sua cabeça se dissolveu e desceu como uma água friinha, geladinha, pela sua coluna, dividiu-se pelas duas pernas e foi até as pontinhas dos dedões. O susto foi acachapante. A princípio Grace perdeu a voz e aquele friozinho foi voltando, agora devagar, subindo pelas pernas e mantendo-as geladas. Num instante ela começou a sentir frio. Essa, não. Estou ficando louca mesmo. Onde já se viu? Isso não existe.
_ Fique calma. - O pleco estava no fundo do aquário. Encostadinho no vidro, debaixo de uma pedra que lhe dava um espaço como se fosse uma gruta. – Tome um copo d’água que eu vou lhe contar esta história.
Adolescentembrião, essa revelação foi como se a casca de menina lhe tivesse sido arrancada de uma vez. Como via as amigas se depilarem. De repente, ela que sempre dizia nunca se submeter a essa tortura da moda, olhou para suas pernas e braços e pensou nossa como estou cabeluda e o Carlim me viu assim. Que vergonha.
Levantou-se para sossegar o coração. Burro brabo escoiceando no peito. Assustado com a descoberta dessa mistura do assombroso com a realidade. Coração não raciocina. Foi até a janela respirar o ar mais fresquinho da noite de fora. Lá no alto, as estrelas, indiferentes ao seu drama, continuavam no seu pisca não pisca sem começo nem fim. Cá embaixo, presa na parede da montanha, a serra negra, espelho desligado, luz nenhuma refletia. Só a lua era capaz de se mirar naquela superfície. Acordo de comadres alcoviteiras, só para flagrar casais enamorados.
Nesta noite, Grace não quis mais papo com o pleco. Da janela foi diretamente para a cama. Esses pensamentos perturbadores ou essa comunicação, ela não sabia identificar o que estava acontecendo, só ocorria quando ela ficava a menos de dois metros do animalzinho. Pensou assim, amanhã eu me levanto pelo outro lado da cama e nem passo perto dele.
Planejado e realizado.
Chegou do colégio, ansiosa para saber notícias do pleco. Quando se levantara, cedinho, nem uma olhadinha lhe dirigira, ainda meio abalada. Mas, durante as aulas, tivera tempo para digerir aquela informação. E se não tivesse entendido direito o que ele queria lhe dizer? E se aquilo tudo tivesse uma explicação lógica? E, de repente, se lembrou do sonho que tivera naquela noite dormida a prestações. Aquele dorme-acorda-dorme-acorda em que os sonhos se misturam com a realidade e parece se encadearem. A gente sonha que está sonhando e no sonho fica sem saber se está sonhando ou se aquilo está acontecendo de verdade.
Era um senhor alto, negro, já de cabelos brancos. Muito tranqüilo e inspirando confiança. Ela estava equilibrada num ramo de um matinho sem nome, bem rente à superfície do córrego das piteiras. Tinha a sensação de ser bem leve, como uma libélula, que o raminho nem se envergava direito. Às vezes, quando soprava uma brisa bem suave, dava uma balançadinha e ela quase tocava a água com os pés. Só que não via seu corpo. Parecia um pensamento. Lembrou mesmo disso. É meu pensamento que está aqui nesse lugar. Isso deve ser um sonho. Foi quando ouviu um psiu chegado de algum lugar mais alto. Olhou para o lado do psiu e lá estava uma pedra enorme que ainda não havia percebido e, sentado nela, aquele homem. Na hora se lembrou do que dissera o pleco. Que era a personalidade de um homem que vivera naquela região noutros tempos. Pensou é ele. E não teve medo.Sentiu foi uma curiosidade enorme. Uma sensação toda de paz a invadiu. Só um pensamento, quem seria essa pessoa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

LST CAP. I - O CAÇADOR DO SOL - Continuação.

E a ninfa do plecóptero, toda prosa, continuou sua falação:
_ È que eu estou prestes a completar esta fase da minha evolução e me transformar num lindo espécime da complexa cadeia alimentar da natureza. Acontece que, por um desses lances insólitos, de repente comecei a entender as coisas, em suma, acho que fiquei racional, como vocês humanos costumam dizer. Apesar de minha aparência física continuar como inseto, minha capacidade intelectual já ultrapassou a da humanidade.
_ Sem condições! Olhe só o seu tamanho. Não tem espaço para abrigar um cérebro nem de galinha, como vai ter mais capacidade que o nosso cérebro?
_ Você já ouviu falar em chip, tenho certeza. Pois é, a inteligência e a capacidade intelectual de vocês ainda estão presas ao sistema milenar de massa encefálica, neurônios, hormônios e outros ônios. A natureza me fez pular esta fase. Minha filha, eu sou chipado. Por que é que você está me ouvindo? Aliás, você não está me ouvindo. Eu me comunico com você por um sistema muito mais evoluído. Você me olha e entende minha mensagem. Tudo que você pensa eu capto imediatamente.
Grace pensou em desafiar a falastrice de seu interlocutor. Não vou responder. Quero ver se ele realmente lê meu pensamento. Que bichinho mais metido.
_ Que bobagem! É claro que sei o que você está pensando. Não é bem um desafio, é um teste. E é válido. Só que eu não sou metido. Tenho consciência de minha capacidade. Vou lhe explicar em detalhes nossas diferenças.
Deu uma contorcidinha, procurando se ajeitar no tiquinho de água que ficara na mão da menina. _ Sabe, eu preciso de água para sobreviver enquanto estiver nesse estágio de ninfa.
_ Você não engoliu essa história de eu ter um chip. Não é bem isso, não. Na verdade, não tenho chip nenhum. Foi só uma comparação. A revolução que o chip representou na eletrônica é semelhante à que representará na biologia essa concepção futurista de inteligência. Como pode ser isso, você está pensando, e porque foi acontecer num bichinho à toa desses e não num ser humano? Muito simples. Vocês humanos não têm a mania de usar os animais para suas experiências? Pois é, a Natureza aderiu à moda de vocês. Eu sou um dos protótipos. Não sabe o que é protótipo. Me cansa. Procure num dicionário, depois.
Grace não gostou da esnobada que recebeu daquele tipinho. Mas esse balde de água fria a trouxe de volta à realidade. O que será que esses dois estarão pensando? Levantou os olhos procurando-os e percebeu que eles estavam na mesma posição do início do seu diálogo com o inseto. Parece até que acabava de escutar o Carlim dizer que ela estava escutando um discurso. Foi como se as coisas que a ninfa lhe dissera estivessem dentro de sua cabeça. Como se fossem pensamentos seus. Na verdade, o tempo não havia passado. E o Carlim continuou:
_ Como é, Gracinha, vamos voltar? Você já achou seu bichinho. Agora jogue ele de volta na água, coitado. Senão ele vai morrer.
Foi só a Grace olhar para seu novo amiguinho e sentir seu apelo.
_ Não me deixe aqui. São muitos os predadores e eu preciso contar muitas coisas para você. Faça o seguinte, me leve com você. Só preciso permanecer na água por mais um tempo. Assim que acontecer minha metamorfose não haverá mais necessidade de me manter dentro d’água. Aí eu poderei voar. Mas agora eu estou correndo um risco muito grande. Numa dessas minhas piruetas aquáticas vou me agarrar a um ramo que esteja acima da superfície e aí aguardo minha transformação. Imagine só quanto risco estarei correndo. Poderei virar comida de pássaros. Quando eu, finalmente, virar um glorioso plecóptero, ainda não estarei seguro. Se cair na corrente, com minhas asas meio úmidas, acabarei na barriguinha de algum peixe. Vamos, arranje um recipiente com um pouco de água e me leve para sua casa.
_ Carlim, eu quero ficar com essa ninfa. Quero acompanhar sua evolução. Assistir o processo de sua metamorfose.
_ Está bem, princesa. Vou ver o que posso fazer. Se tivéssemos trazido uma garrafinha com água, agora seria fácil.
Saiu andando devagar às margens do ribeirão até encontrar uma touceira de inhame brabo. Com o canivete Victorinox, que ganhara de seu tio no dia do aniversário e do qual não se apeava nunca, cortou uma folha sem defeito, dobrou-a formando uma concha e apanhou um pouco d’água.
_ Pronto. Coloque sua preciosa carga aqui dentro e vamos embora.
_ Brigadim, Carlim. Quando você casar eu vou dançar muito.
_ Só se for comigo, beleza!
Ela olhou para ele e lhe deu um muxoxo que ele achou adorável.
_ Lá em casa tem um aquariozinho velho, encostado. Vou colocar água nele, umas pedrinhas no fundo igual aqui no ribeirão e vou colocar o pleco nele.
_ O, o quê?
_ O pleco, uai. Não é plecóptero? Então, pleco.

terça-feira, 21 de abril de 2009

LST - CONTINUAÇAO

Cap. I - O CAÇADOR DO SOL - continuaçao

Os três chegaram, à tardinha, ao local conhecido como piteiras. Era uma baixadinha toda verde de capim bom para o gado. O riacho escorria fazendo curvas caprichosas. Às vezes, sonolento, às vezes, saltitante entre as pedras arredondadas.
Olhando do alto da colina, por onde a estradinha chegava, parecia que alguém havia estendido um tapete, prendendo as bordas nas raízes das árvores da capoeira que circundava todo o vale. Depois, sem querer, distraidamente, deixou cair uma tigela cheia de leite que se espatifou em pedacinhos e escorreu tapete abaixo, carregando os caquinhos que foram se arredondando com o rola-rola e virou esse ribeirão que tomou gosto pela brincadeira e não parou mais de correr.
_ Onde foi que o bichinho falou com você?
_ Foi bem aqui, neste lugar, Carlim.
_ Mas nessa hora o sol estava bem forte, não estava?
_ E daí? O que tem o sol a ver com isso?
_ Tem tudo! O calor afetou você. Sua cabeça começou a doer. Você passou por uma modorrinha, deu uma cochilada daquelas que duram frações de segundo e essa história toda foi um daqueles sonhos instantâneos que a gente tem.
_ Não pode. A coisa foi muito real. Eu não perdi a consciência. O tempo todo eu estava vendo todo mundo ao meu lado.
_ Isso acontece. Mas aposto que agora, sem o sol, você não vai ouvir nenhuma voz estranha.
_ Aquele bichinho deve estar por aqui ainda. Vou olhar com atenção o fundo da água. Ele fica debaixo dessas pedrinhas redondas. De repente ele dá um salto, faz uma pirueta bem na superfície e mergulha de novo se escondendo debaixo de outra pedra.
_ Será que ele vem à superfície para respirar, que nem o peixe-boi que mora nos rios da Amazônia? Era a Márcia, querendo encontrar explicação pata tudo.
_ Sei lá, Márcia. Vocês é que estão estudando biologia. Pergunte pra sua professora, ou então pesquise e encontre a resposta.
_ Deixa de ser chato, Carlim! Perguntei só por perguntar.
Enquanto os dois irmãos quase se estranhavam, Grace, debruçada sobre o ribeirão, observava atentamente o escorregar lânguido das águas entre as pedras limosas. Espraiando-se logo abaixo, na areia que cobria o fundo, lugar dos animais pararem para beber. E as águas davam uma volteada como se estivessem olhando para trás, talvez esperando que as pedras as acompanhassem. Depois continuavam seu caminho roçando em outras pedras, neste jogo de sedução sem fim e sem êxito.
Foi quando, subitamente, como um corisco riscando o céu, um bichinho preto surgiu e desmergulhou em direção à superfície. Como num movimento reflexo, a mão direita da menina relampagou no espaço que a separava da água e capturou o serzinho com um pouco do líquido que ficou depositado na palma em concha.
_ Te peguei, danadinho! Quero ver se todos vocês falam ou se era só aquele do outro dia.
_ Adivinhe! Eu sou aquele mesmo do outro dia. E as anteninhas dele se mexeram como se estivesse gesticulando, que nem um italiano quando fala.
_ Mai god! - Desde que começara a estudar inglês, essa era sua expressão favorita – Carlim, Marcinha, venham ver o que achei aqui!
Chegaram rapidaente.
_ Isso é a ninfa do plecóptero, foi recitando a Márcia, você não se lembra?
_ Márcia, é o mesmo do outro dia!
_ Quem pode garantir?
_ Ele mesmo. Ele fala.
_ Ai, mai god, disse remedando a amiga, a coisa é mais séria do que estava pensando.
_ Você não acredita? Pois eu vou lhe fazer uma pergunta e você vai ver que não estou mentindo, E aproximando a boca da mão, perguntou carinhosamente ao seu refém:
_ Quem é você e o que estava fazendo aqui?
As anteninhas tornaram a se mexer e ela ouviu nitidamente.
_ Pra todo mundo que me vê eu sou apenas a ninfa de um plecóptero aguardando o fim desse estágio da minha evolução, mas, na verdade, eu sou a manifestação do espírito da natureza. Esse espírito pode se manifestar em qualquer ser que habite este planeta. E virando suas antenas para os amigos da Grace, não adianta eles ficarem me olhando com essas caras de assustados, porque eles não vão ouvir minha voz. Ela não é captada pelos ouvidos humanos. Só a alma é capaz de ouvir nossa voz.
Os dois já estavam intrigados com o jeito como a menina estava absorta na contemplação do animalzinho.
_ Que que foi, Grace?
_ Psit, ele está falando.
_ Pelo tempo e a atenção que você dispensa a esse projeto de besouro, ele deve estar fazendo um discurso, ironizou o Carlim.
Mas Grace não lhe deu a menor atenção. Estava concentrada naquele animalzinho de outro mundo. E de tal modo absorta que nem estranhava o fato de estar travando um diálogo com um ser irracional, como julgava serem os insetos.

domingo, 19 de abril de 2009

PHARMACIA EM BABILONIA

Ja havia escutado o boato. A Farmacia do Sr. Osni ia ser ativada. Realmente, ha algum tempo tenho-a visto com as portas abertas. Dia desses resolvi parar la e conferir. Confere. O Adao da farmacia, que ja tem um estabelecimento em Jaguaraçu, alugou a sala em que sempre funcionou a Drogaria Sao Jose do Sr. Osni.
Agora o mais importante e que ela esta do jeito que todos nos a conhecemos. Os mesmos moveis, a mesma disposiçao. E foi uma exigencia dos meninos do Sr. Osni. Achei o maximo.
Cinquenta e tantos anos atras, via aqueles armarios quase de cabeça pra baixo, deitado de bruços no colo de minha mae, para tomar a vacina antirrabica, por culpa de um cachorro que tinha la em casa e pirou e saiu mordendo todo mundo. Eram muitas doses e eu nao queria de jeito nenhum levar todas aquelas agulhadas. E interessante que naquele tempo sr. Osni ja vendia outros produtos como brinquedos e artigos infantis. Que nem as drogarias de hoje em dia. E foi so por causa de um cachorrinho que corria sobre rodas (corria sobre rodas é interessante - a pedidos vou abrir uma exceçao para o acento grafico do é) movido por corda acionada puxando seu rabo, que me submeti a todas aquelas injeçoes. Ganhei o cachorrinho no dia da ultima injeçao e quano cheguei em casa minha tia foi brincar com ele sobre um banco e ele caiu e quebrou uma das rodinhas. Mas brinquei muito com ele so com as duas rodas da barriga. Ia batendo a cabeça ou a traseira no chao, mas era divertido.
Ai, sugeri ao Adao colocar a venda uns brinquedos que podem atrair a criançada pra tomar injeçao e ganhar presentes.
Voltando ao tema, o Adao é gente fina. Atende com muita gentileza e esta formando seu estoque de remedios. Entao sua visita é importante ate para ajuda-lo a escolher o que vai ser procurado pelos clientes.
Prometi ao Adao que iria deixar essa nota no blog para dar ciencia aos meus leitores que agora podem encontrar la aquele remedinho esperto que pode ser necessario de repente.
Quero dar os parabens tambem a Carlos Alberto, Geraldo, Orminda e Ze Osni por terem tomado essa decisao de alugar o ponto e, mais importante, combinar de funcionar do mesmo jeito que era antigamente.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

LIVRO SEM TITULO - LST

Cap. I

O CAÇADOR DO SOL


Gracelaine acabara de responder ao Dr. Plecóptero, dando nota sete ao riacho em que ele estava hospedado.
Estava tudo tão confuso na cabecinha dessa menina de quase treze anos.
Durante a aula de biologia a professora inventou que deveriam fazer uma pesquisa de campo. Foram até o local chamado Piteiras para examinar a água do ribeirão que formava ali um pequeno açude onde adoravam brincar.
Deveriam observar as margens do riacho, o leito das águas, os arredores, anotando tudo que vissem e achassem interessante.
Foi aí que tudo começou.
Clarisssa, esse era o nome da professora, pegou uma peneira e raspou o fundo do ribeiro, trazendo areia, ciscos, folhas velhas meio apodrecidas e uns bichinhos que moravam naquele habitat, que era como a professora chamava os locais em que essas criaturinhas viviam. Ela falava até engraçado, terminando com um tate, habitate.
Nessa peneirada havia um bichinho estranho. Quando Grace viu o inseto, de cara ela cismou com ele. Tia Clarissa, que bicho é esse? Qual? Esse esquisito que está olhando pra mim!
Então, Grace viu a boquinha do bicho se mexendo. - Tia, ele fala? - É claro que não! - Mas eu ouvi direitinho ele dizer assim: Ei, professora, aqui embaixo, na peneira. - Você está sonhando, Laine. Esse animalzinho é a ninfa do plecóptero. Depois ele se transforma, sai da água e fica vivendo nas margens, escondidinho debaixo das pedras.
A professora só a chamava de Laine. Dizia que era mais bonito do só Grace. Parecia francês. Com ela, ou seria Gracelaine todo, ou, então, só Laine. Que podia fazer? Sentia-se até lisonjeada com o interesse da professora.
Mas Grace não escutava as explicações da professora nem percebia a presença de seus colegas. Ouviu perfeitamente quando o tal pleco não sei o quê perguntou: - posso ajudá-los em suas pesquisas? E ela mais que depressa respondeu: Claro. E ele foi em frente na sua falação: - Observei que vocês estão avaliando esse rio.
Para ele, tão pequenininho, aquele riachozinho era um rio de verdade. Mas ele continuava a falar: - Que nota vocês deram para esse trecho? Foi aí que Grace, quase sem querer, respondeu: - Nota sete.
_ Que foi, Laine? Perguntou Clarissa.
_ Nada, não! E voltou a prestar atenção nas explicações da professora.
Só que a cena do bichinho falando não saía de sua cabeça e ela se assustou com medo de estar ficando lelé da cuca.
Por fim a professora terminou a aula prática e todos voltaram para o colégio. Já era hora de irem para suas casas
A menina entrou na sala de aula desconfiada, olhando para os lados com o rabo dos olhos. Tinha certeza que os colegas estavam comentando as coisas disparatadas que ela acabara de falar lá na beira do regato.
Mas a professora liberou logo todo mundo para ir embora. Ela apanhou suas coisas e foi saindo de fininho, sem encarar nenhum colega. Apertou os passos para ver se conseguia sair na frente e não ter de responder nada a ninguém.
Já havia ultrapassado a ponte que ficava logo na saída do portão do colégio, quando ouviu que alguém vinha rápido atrás dela, quase correndo. Não quis se virar para ver quem era. Seria muita bandeira. Mas a pessoa já estava ao seu lado.
--- Gracinha, cê tá bem?
--- Tô, não. Minha cabeça tá doendo, pacas. Acho que é o sol.
--- Pode ser. Marquim me contou que ocê, na aula de campo, cismou que tinha um bichinho falando. Cê quer conversar sobre o que aconteceu lá na piteira?
--- Por quê? Cê acha que tou ficando doida?
--- Que nada. Acho que cê tava tirando um sarro com a professora.
--- Eu, não! Eu vi e ouvi direitinho tudo que aquele bichinho falou.
--- Às vezes, a gente acha que viu ou escutou alguma coisa, mas é só imaginação. Principalmente se a gente está distraído, pensando nalguma coisa diferente.
--- É, só que não foi nada disso, Carlim. Eu não tava sentindo nada. Estava prestando atenção no que a professora tava falando. Mas, na hora em que vi o tal bichinho, ouvi direitinho a voz dele.
--- E os outros, ouviram também?
--- Acho que não. Só eu que ouvi.
--- Esquisito!…
E Carlim ficou olhando para Grace. Naquela mistura de carinho, ternura e preocupação. Era alguns anos mais velho do que ela. Moravam na mesma rua e ela ia, algumas vezes, até sua casa, brincar ou estudar com sua irmã Márcia. As duas tinham mais ou menos a mesma idade e eram colegas de sala de aula.
Quando começaram essa amizade, ainda pequenas, nem prestou atenção naquela menininha de pernas finas, carinha de anjo sapeca, sempre sorrindo meio envergonhada, cobrindo a boca com a mão em concha por causa dos dentes irregulares, apesar de muito branquinhos como se estivessem sempre acabando de ser escovados.
Agora, de repente, acabava de perceber que ela se transformara. Aqueles cambitos viraram um par de pernas dignos de apreciação. Até o aparelho que usava nos dentes lhe dava um encanto especial e ela já sorria confiante. E quando ria era para valer, com a participação solidária de todos os trinta e dois que brevemente seriam apenas trinta, pois havia dois que estavam condenados. Os tais dentes do siso. Estavam apenas nascendo e já estavam empurrando seus irmãos como se fossem os donos daquela boquinha apetitosa.
__Carlim, cê volta comigo lá nas piteiras? Quero procurar aquele bichinho. Quem sabe, ele não pode estar lá ainda?
-- Bobagem, mas se ocê quiser, eu vou, sim.
-- Vou chamar a Márcia também. Ela viu o que aconteceu na aula.
Carlim soltou um suspiro de resignação. Preferia que fossem sozinhos, mas não ia dar bandeira. Tinha muito tempo para abrir o caminho do coração dessa menina.
-- Tudo bem. Depois a gente combina uma hora para irmos lá.
-- Eu vou falar com a Márcia, primeiro. Certo?
-- Certo! Até, então! ---------

UM NOVO LIVRO... QUE PREGUIÇA!..

Acho que se fosse baiano, nao seria mais preguiçoso. Comecei a escrever com um enredo mais ou menos bolado. De repente achei que nao ia ter graça e comecei outra estoria com a intençao de inserir a estoria original. Mas ja deve ter uns tres anos e a coisa nao anda. Agora com esse blog me acenderam umas lamparinas na cabeça, como dizem os mais velhos daquela novela. Se começar a publicar aqui, como se fazia antigamente. A maior parte dos romances eram publicados em jornais sob o forma de folhetins. Depois eram editados em forma de livros.
Entao, estou pensando em dividir o que ja esta escrito e ir colocando nesse blog.
Ainda nao tenho um titulo.
De tanta preguiça, vou so copiar sem mexer nos acentos. O que ja escrevi esta na ortografia antiga. Quero dizer, tem acentuaçao grafica. Mas o que for produzido de agora em diante vai ser na minha nova ortografia. Sem acento nenhum. A unica duvida e o e (verbo ser-3a pessoa) e o e (conjunçao aditiva). Existem colocaçoes em que tanto faz. Agora, quando nao da sentido de um jeito e so mudar para o outro que a coisa funciona. E bom para o leitor nao perder a atençao.
Ta decidido, vou começar hoje ainda.

sábado, 11 de abril de 2009

...O JUDAS VINHA... A REVOLTA DOS BOIS

E aconteceu o inimaginavel. Na procissao da semana santa a Veronica canta Oh vos que passais imaginai so a minha dor. Entao para vos que nao estaveis em babilonia, imaginai so o que aconteceu.
O judas vai... e o judas nao vem.
Quando a comitiva do judas passou era de se admirar a quantidade de seguidores. As crianças eram tantas que mais parecia uma correiçao de fomiguinhas, cada qual segurando sua sacolinha onde iam depositando as balas. Cantando versos do judas.
Na frente, iam os dois bois conduzindo o carro do judas. O carro de bois do judas. Uma junta. Nao precisava de mais. Judas e leve, mais um ou dois passageiros de companhia. Carga pouca. Que acostumados com maior peso. Carro cheio de milho ou carrego outro, mas pesado. Nem sentiam ter que despender maior esforço nessa missao. So o barulho e que incomodava. Algazarra muita e eles acostumados com o silencio e a tranquilidade de sua morada. Barulho, so o cantar do eixo do carro, os gritos eh boi e o chocoalhar da argola do aguilhao. Agora nao. Confusao demais e as orelhas tudo captam e os chifres parecem antenas que amplificam a zoeira.
Zico e Zeca, a principio calmos, começam a ficar inquietos. Nomes ficticios. Tal qual os de menor nomes e imagens nao podem ser divulgados. Associaçao protetora dos animais nao permite. Ja e demais a carga horaria a que sao submetidos. Imaginem, em pleno feriado eles trabalhando sem direito a horas extras.
Zico arrisca uma olhada de banda para o Zeca. Da-lhe uma lambada com a vassoura do rabo e espera sua reaçao. Que foi? Que ce ta achando da situaçao? Estranha, nao? Rummm... tambem nao estou gostando. Pra que sera toda essa balburdia? Essa o que? Balburdia. Que isso? Bagunça, confusao, anarquia. Ah, nao sabia de sua erudiçao. Tive um candieiro que nao largava um livro e lia em voz alta. Aprendi muito com ele. Me lembro dele. Mas enquanto ele falava aquelas coisas estranhas eu ficava ruminando meus pensamentos gramineos. A agua fresca do ribeirao e nao dava a minima para o que ele dizia. Pois e, agora nao entende o que digo. Nem tanto. Olhe, uma vez, num livro que ele lia, contava uma estoria de uma multidao assim ensandecida. Ensandecida? E, enlouquecida. Ah! E no fim da linha a coisa acabou em sangue. Nao diga, e se for pra haver sangue, advinha de quem? E nisso que estou pensando. Nao se lembra do Bim e do Bao? Apareceram uns caras e eles desapareceram. Vimos so as marcas de sangue no chao e aqueles dois couros espichados ao sol. Depois disso nos passamos a ser os unicos a puxar esse chiado interminavel. Agora voce nao ve que apareceram aqueles dois molecotes ja bem troncudos e que de vez em quando colocam aqui na nossa frente pra treinar. Acho que nossa aposentadoria ta chegando e sabe o que isso significa, nao? O mesmo destino do Bim e do Bao. So que comigo nao, violao. Que violao? Deixa pra la. Booooiiiii...
Acostumados com a ordem, estacaram. Zico retomou a conversa. To vendo que a presilha da canga ta quase soltando. Se a gente fizer uma pressao pra baixo e abaixar a cabeça nos podemos fazer essa canga cair e saimos livres. Mas estamos peiados um no outro. Nao tem problema. Nos podemos sair correndo juntos e escapamos desse destino ingrato. Na volta que e mais facil achar o caminho de casa. Pra casa e que nao podemos voltar. Temos de cair no mundo. Quando fizerem uma daquelas paradas para jogarem aquelas pedrinhas cheias de gritos e cantoria; e hora de cairmos fora. Rum...rum...
E nao deu outra. Assim que a comitiva retornou, Zico e Zeca trocaram um olhar enviezado-cumplice, baixaram as cabeças ao mesmo tempo. As presilhas se soltaram. A canga caiu e eles sairam em disparada. A confusao so nao foi maior porque estavam na frente de todos e nao tiveram de abrir caminho. Que dois pares de chifres dao muito medo a humanos nao acostumados. E como caminho outro nao ha atravessaram a cidade toda correndo, em par, como um casal de noivos, apos o casamento, direto para a lua de mel.
Todo mundo com cara de tacho. Os da organizaçao olharam praqui, olharam prali, soluçao melhor nao acharam. Galhardamente assumiram o lugar dos bois e o carro do judas, nao mais de bois, chegou ao seu destino na praça. Agora e so esperar a hora da leitura do testamento e tacar fogo no dito cujo. Isso se o judas nao fugir tambem.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O JUDAS VAI... O JUDAS VEM-2

Tao vendo so como e bom ter seguidores (no meu caso, so seguidoras ate agora). Quando resolvi escrever sobre judas tinha na cabeça o judas da babilonia. So que me perdi nas elocubraçoes filosopsicosociais do acontecimento e nao e que veio a Cristina me dar uma cutucada!
Temos que dividir essa estoria em AM e PM. Ante Maurilien e Post Maurilien. Ou AP e PP. Ante Piloloian e Post Piloloian. As variaçoes se referem as declinaçoes latinas. Cade o Tacao e o Helio de So Erico que nao me deixam mentir?
Entre AP e PP houve o TP. Tempo do Piloloia. Ai ja esta em portugues, nao ha variaçao declinatoria. Pra quem esta meio confuso diria TMP. Tempo do Maurilio Piloloia.
AP ou AM.
Essa festa do judas se perde nas brumas babilonescas da onça grande. Em tempos idos funcionava de outra forma.
Havia um tal de curral de nao sei o que. Por mais que apertasse o cerebro dos miolos nao consegui lembrar o nome desse curral. Os mais antigos devem se lembrar. Vou explicar pra que servia esse cural e a Flavia, minha seguidora caçula, vai ter a gentileza de perguntar ao seu avo, Raimundo de So Paulo, esse bendito nome.
Era um recinto onde prendiam os animais que ficavam soltos na rua. Os proprietarios desses animais tinham de pagar uma taxa para retira-los.
Pois e (voces estao conseguindo identificar a terceira pessoa do verbo ser em contraposiçao a conjunçao aditiva e? Na minha pirraça de nao usar acentos, as vezes acho que posso ser mal interpretado). Da quinta feira santa ate o sabado de aleluia essa taxa era revertida para a comissao do judas. E o que faziam, naquele tempo, nossos herois do BBJ (Big Brother do Judas)?
Batiam nos pastos da vizinhança e conduziam o gado para o curral. No outro dia, na maior cara de pau, iam receber as taxas dos proprietarios que esbravejavam uns, achavam graça outros, mas todos tinham de tirar o leite e pagavam para retirar as vacas. Passavam tambem de porta em porta pedindo contribuiçao para a queima do judas. E as pessoas davam. Quase nunca dinheiro. Mas frutas, guloseimas, bebidas que eram muito bem aceitas. Fabricavam o boneco e o queimavam na praça. Mas testamento ao dava para fazer. E as bebidas que ganharam? No fim da festa, era o judas queimado e os componentes da comissao totalmente bebados recebendo as admoestaçoes do padre e os narizes torcidos das maes, comadres das maes, namoradas, noivas e ate esposas. Que tinha nego casado que tambem nao resistia a uma boa farra.
Ai veio a epoca do TM.
Maurilio nao pedia ajuda pra ninguem. O ponto alto era a leitura do testamento do judas. Piloloia (era o apelido do Maurilio) passava o ano inteiro matutando nos versos que ia ler no sabado de aleluia. Tudo que acontecia era cuidadosamente anotado e virava gozaçao. Na fabricaçao da vitima ele aceitava colaboraçao. Mas ele era o protagonista maior da festa. Microfone na mao, ele ia desfiando as provocaçoes e fazendo desfilar os personagens que pisaram na bola.
Ficou tao arraigado na memoria popular seu versejar que depois de sua partida por, varios anos, Tarcisio de So Luiz Pega-Pega que herdou o microfone do Piloloia e a incumbencia de ler o testamento, utilizou muitos de seus versos entremeando os de sua lavra. Essa fase ja faz parte da PM ou PP. Seria a primeira fase PP. Que a segunda e atual fase PP esta se desenrolando ante nossos olhos e ouvidos.
Uma grande e acertada novidade foi a introduçao do passeio do judas, a tarde, instalado sobre um carro de bois, distribuindo balas para a garotada e arrebanhando uma multidao de acompanhantes. Os membros da comissao do judas animando o passeio e entoando versos acintosos contra o infeliz. E as crianças a cada ano se animam para acompanhar o judas e correr atras das balas atiradas de cima do carro de bois. Virou atraçao regional.
A noite, depois da Missa, na praça em frente da igreja, ha a leitura do testamento.
Este ano, uma novidade. O Marlifolia sera logo apos a queima do judas. Foi decisao inteligente que dara mais folego a festa. E fica uma data fixa para virar tradiçao atraindo visitantes e marcando mais um motivo para reencontro de quem se ausentou.
Entao fica nosso registro. Marilio Piloloia e o grande homenageado. Tarcisio nao pode ser esquecido e a turma que hoje promove e mantem a festa merece nossos aplausos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O JUDAS VAI... O JUDAS VEM

Cabeça pelada que o judas tem...

O saco de pancadas dos que so levam pancadas o ano inteiro. A malhaçao do judas e uma terapia coletiva. Muitos chefes, pais, colegas, inimigos e amigos estao ali representados. Muitas vezes inconscientemente. Para todos, no entanto, nao passa de uma brincadeira. Trata-se da ludoterapia. Brincadeira que ajuda no equilibrio psicologico. Afinal, nos todos nao passamos de crianças. Alguns, crianças crescidas. Outros, nem tanto. Mas crianças pedindo colo. Chamando pra brincar. A pedagogia nao descobriu que se aprende muito mais brincando do que falando serio? Homo ludicus. E brincando que a criança aprende a ser gente grande. Seria o caso de dizermos dize-me de que brincas e te direi o que seras. Porisso e que nao acho graça nenhuma nesses super-herois tristes, de capas vermelhas e arzinho de idiotas. Fantoches engalanados fugindo da realidade. Nao sou saudosista nem no meu tempista. Mas a brincadeira antiga que nao se ve mais de faroeste era mais produtiva. As crianças encarnavam herois de carne e osso fazendo estrepulias de gente. Era a mesma luta do bem contra o mal. So que usavam recursos que estavam ao seu alcance. Ninguem voava. Ninguem tinha superpoderes. Era mais realidade.

Nem me venham com o velho cliche de que essas brincadeiras, tanto as de hoje como as de ontem, estimulam a violencia. Bobagem. O que estimula a violencia e a traiçao, a mentira, os sete pecados capitais.

O judas passou a representar a encarnaçao do mal que deve ser perseguido e destruido exatamente porque ele virou a personificaçao da traiçao. E isso que a humanidade abomina, ou deveria.

Judas e o politico traidor da espectativa popular. E o patrao desumano e opressor. E o mau profissional corrupto e corruptor. Mas e um pouquinho de cada um que grita contra a corrupçao quase institucional de nossa sociedade e nao se peja de dar uma bola para nao levar uma multa. De comprar um produto pirata. De nao respeitar um engarrafamento de transito e ir furando a fila dos que aguardam uma soluçao democratica.

Mas, no sabado de aleluia que minha vo dizia carne no prato e farinha na cuia, fogo no judas e nas nossas mesquinharias de seres menos nobres. E como a Fenix ressuscitar das cinzas, novinhos em folha abandonando o maximo que pudermos dos defeitos queimados junto com o judas.
Ressurreiçao e assunto de Cristo. Ele ressuscitou alguns e usou o remedio em si proprio. Mas a queima do judas nao deixa de ter o seu simbolismo. Queimar o mal, a traiçao, a hipocrisia, a mentira, a ganancia por trinta dinheiros e procurar ser cada dia um pouco melhor.
Por isso que eu gostava de brincar de faroeste. A gente sempre prendia os bandidos e nao tinha nenhum gilmar mendes para solta-los. So o fim da brincadeira.

terça-feira, 24 de março de 2009

SALADA DO TEMPO

Dia 20, a noite, me deu uma vontade de escrever alguma coisa. Mas estava em babilonia com inicial minuscula porque nao e nome de cidade nenhuma, a nao ser na minha vida virtual. e apesar de contar com um modem da claro, la nao consegui acessar. Na casa da minha mae e sinal de eme. Outra coisa, aqui so uso virgula e ponto. Nada de acentos. Sou mais radical do que a nova ortografia oficial. Vejam so se nao da para entender tudo? Entao pra que essa frescura de acentuação? Interrogaçao tbem uso. Mas interrogaçao e ponto tambem. Entao ta certo.

Estava no preludio de mudar a potencia de meu motor. Passei de 6.1 (seis ponto um) para 6.2 (seis ponto dois) e me deu aquela nostalgia de quando era um motorzinho economico, 1.7, 1.8, etc. Bobagem. Cada motor tem suas vantagens e desvantagens. Antes, pelo menos os impostos eram menores.
Briquitei, briquitei e nao consegui escrever nada. Agora entrei nesse blog que nao sei porque fui inventar e vi que a ultima publicaçao foi em 28/02. Pequepe (lembrem-se que nao uso acento). Tenho de escrever alguma coisa, senao minha unica seguidora (Lucinea de tia Nazinha, parente e pra essas coisas) e mais alguns curiosos podem dizer olha so o metido a escritor ja parou.
Nao parei. Dei-me uma tregua.
Mas o TEMPO. Era ele o motivo de minhas elocubraçoes na vespera do outono. Agora me lembrei de um detalhe. Nasci no inicio do outono. Por isso essa nostalgia. Despedida do verao. A primavera ainda longe e o inverno vem ai. Se bem que, nestas plagas, o inverno e uma bençao.
Diz o filosofo que o dito cujo (tempo) nao existe. O futuro nao existe mesmo. O passado ja nao existe mais e o presente e uma fraçao de segundinho a toa. Parece que ele tem razao. Ou entao podemos adaptar. Existe na nossa memoria o que passou, seria o tempo passado. A perspectiva do tempo futuro, seria o que vai acontecer se as grandes potencias mundiais deixarem. E o tempo presente e essa fagulha do pensamento.
De todos o mais delicioso e o passado. Porque e o passado que da uma esperança de futuro. O passado e uma soma dos trilhoes ( que nem o deficit americano) de fagulhas do presente. E pelo correr da carruagem de seu passado voce tem mais ou menos uma certeza de como pode ser o seu futuro. E claro que se nao acontecer nenhuma bala perdida em quaisquer dos sentidos. Nao tinha aquele cara que so dirigia sobrio, nunca passou por cima de nenhuma faixa continua, nunca ultrapassou a velocidade das placas, nem passou num sinal vermelho, ate no amarelo piscando ele parava antes de passar e nao veio um efedepe (ta sem acentos) cortando numa curva, faixas continuas e nao arrebentou ele? Sao as balas perdidas a que estamos sujeitos. Alem de outras de efeito moral, psicologico, financeiro, etc.
Bem, chega de filosofia barata. Alias, a barata e um ser eminentemente filosofante. Dizem que e um dos animais mais antigos da terra e que se houver uma hecatombe atomica e o unico que pode escapar. Tudo por causa de sua imensa capacidade de se adaptar a qualquer situaçao.
Sejamos como as baratas, sem nunca perder a ternura.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CONTINUANDO...

Pois é, retornando ao assunto, almoçado e já em Babilônia.
Uma de suas obras que ficou para a posteridade foi a construção da estrada que ligava a sede da cidade á região rural chamada de mata, onde está situado o Parque Florestal do Rio Doce.
Na época, ficou chamando "estrada nova". Era uma delícia brincar de escorregar na terra solta que se derramava morro abaixo. Desespero das mães, principalmente aos domingos, depois da Missa. Era comum reunirem-se meninos e meninas e irem chiar na terra solta e vermelha. As roupas eram as de ir à Missa, ou de "ver Deus".
Mas ficou parada no alto de Jacroá. Embargos, brigas políticas, etc. Depois foi ligada ao Parque Estadual do Rio Doce. É essa estrada que agora terá as obras de pavimentação iniciadas.
E o Sr. Foad, depois de cumprir sua missão aqui, foi embora dar continuidade à sua carreira de funcionário público. Mas não se esqueceu da cidade nem dos amigos que fez.
Por isso, foi homenageado, recebendo o título de cidadão honorário e placa distinguindo-o como "amigo de Marliéria" na festa Apareça na Praça.
Como verdadeiro gentleman valorizou muito aquelas crônicas publicadas como "Babilônia e seus fantasmas", e acabou ele mesmo escrevendo suas memórias sobre as intendências que exerceu em sua vida. E declarando abertamente seu amor por essa terra.
Chegamos a manter correspondência e ele nunca deixou de me mandar um cartão de Natal.

ESTRADA DO PARQUE E OUTROS ASSUNTOS

Acabei de ver na internet, mensagem postada pela Maria Nunes, convite para o lançamento da obra de pavimentação da estrada do parque florestal do Rio Doce. Aí me bateram na cabeça, que o coração não pensa, ao menos por enquanto, sei lá o que podem descobrir esses maravilhosos cientistas, as lembranças da abertura daquela estrada.
E mais do que da abertura da estrada, a figura do Sr. Foad. Acabou de nos deixar, depois de ficar sem a sua Vera.
Quando abriram aquela estrada ele era o intendente em Marliéria. Para quem ainda não sabe, quando foi emancipada a cidade, era preciso alguém com experiência, disposição e competência para assumir a administração do novo município e organizar toda a infra estrutura {ainda não tenho certeza se essa palavra deve ser escrita infraestrutura, infra-estrutra, ou como escrevi, nem vou agora, em plena efervescência de ideias(aqui tenho certeza que o acento gráfico acabou) e já sendo chamado para almoçar, procurar as novas normas de ortografia} para a primeira eleição do executivo e do legislativo.
A grande sorte foi ter sido justamente ele nomeado para essa missão. Depois eu continuo que já me chamaram para almoçar e não vou deixar que fiquem me esperando.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

CARNAVAL2009

Terça feira gorda era como se chamava a terça feira de carnaval. O último dia de folia, onde tudo era permitido. Diziam os entendidos que depois do carnaval é que era bom ir à zona boêmia. Ficava cheínha de moças novas que foram expulsas de casa pelos pais moralistas. Coisas de antigamente...
Mas aqui, em Babilonia, interior de Minas, o máximo que se conseguia era algum bailezinho inocente, com o Tuico, Modesto, Manuel aborde na bateria, às vezes, Zé Godoy no pistom, Tacão no trombone, Edil também não faltava. E pronto.
Tempos depois chegou a haver até desfiles de blocos e mini escolas de samba. Com sambas enredo compostos especialmente para a ocasião por compositores locais. O carnaval começou a ficar famoso. Chegou até a atrair visitantes.
Mas, como tudo que não anda por suas próprias pernas, acaba ficando refém da boa vontade ou da "ideologia" dos administradores públicos. Desentendimentos locais, por interesses eleitoreiros ou simplesmente por causa da vaidade humana foram minando a festa. Chegando a acabar, ou como se dizia da festa do rosário, quando algum casal de rei e rainha deixava a peteca cair, que foi enterrada.
Então, neste ano de 2009, foi aquela calma gostosa que a gente não suportava no século passado. Algum carro de portamalas aberto tocando, em volume insuportável, aquelas idiotices de sempre. Engraçado que ainda não fiquei sabendo de nenhum proprietário de veículo que instalasse um desses sons que inutilizam o portamalas que tivesse um gosto musical pelo menos sofrível.
Para o ano que vem, parece que há a intenção de retomar a tradição do desfile. Quando a notícia se confirmar, estarei anunciando para combinarmos nos encontrarmos na praça.
Até a próxima.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

MUITO PRAZER

Estou me apresentando. Esse blog começou a existir no carnaval de 2009. Mais exatamente na segunda feira (23/02/2009). Logo apos completar 35 anos de casado com a Vera. Casamo-nos na sexta feira de carnaval de 1974. Como o carnaval se repete todos os anos, não pudemos escapar. Vieram as bodas de prata. Agora, aguardando as bodas de ouro. Como ainda faltam 15 anos, acho que vai dar para escrever muita coisa.
O que vou escrever?
"De um tudo".
Acho que vou reeditar algumas cronicas. principalmente as ligadas à família Quintão Castro, tronco de onde sugiu o galho onde brotei.
E outras coisas. Os comentários que espero ler irão também me orientar sobre a linha a seguir.