segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

MEU LIMOEIRO...

Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá. Uma vez tindô lêlê, outra vez tindô NHANHÁ.
Enquanto pôde e os pensamentos ainda desembaralhados nunca se esquecia de perguntar e o meu limoeiro, ainda tem jabuticabas? Tem, sim. Que ninguém pode ser tão louco de acabar com aqueles pés de jabuticabas. E os pés de manga?
Mas o que mais frutificou naquele Limoeiro foi a árvore do amor.
De certa feita, de tanto ouvir falar no Limoeiro. Acho que o Ivo era meu colega de sala. Na terceira série? Não faz mal.
Mãe posso ir com os meninos de tia Nhanhá passar o fim de semana lá? Peça ao seu pai. Pedi. Peça a sua mãe. Mãe, o pai falou que se a senhora deixar, eu posso ir. Então pode, tenho muita ficheza com Zezé e Nhanhá. Mas não me vai fazer arte lá, senão é a última vez. Ficheza não encontrei em nenhum dicionário, nem com "X" nem com "ch" como resolvi escolher. Mas que existe, existe. Todos podem comprovar. Acho que com "ch" é mais lógico. Viria de "ficha". Quem tem ficha com alguém é porque tem crédito, tem confiança. E confiança tem que ser mútua.
Mas sexta-feira, depois da aula, a turminha tomou o caminho da Onça. Waldemar, ou Juarez era o líder. Acho que era o Waldemar porque fiquei sabendo, por causa de outra história, que o Juarez foi aluno da tia Dulce e no meu tempo de escola tia Dulce já não morava mais em Babilônia. Mas isso é apenas um detalhe e nós nem somos Roberto Carlos.
De noite, luz de lamparina, todo mundo pra cama cedo. Depois de rezar o terço? Nem me lembro, mas acho que sim. E aí o Gonzaga começava a chorar. Me lembrava do seu xará famoso e comentava é a sanfona do Luiz Gonzaga. Só que uma tia indiscreta me garantiu que, lá, todos foram chorões. O Juarez então era de amargar. Ela se lembrava muito bem da Nhanhá socando arroz no pilão com uma mão só, enquanto a outra segurava o Juarez enganchado nas suas cadeiras.
De madrugada alguém acordou e deu por falta das vacas que deveriam estar deitadas no terreiro, aguardando pacientemente a hora de se verem aliviadas do peso do leite armazenado em seus peitos para alimentar seus filhos berrões e os filhos dos outros. Já desconfiado, foi verificar a roça de milho e feijão mesmo em frente, do outro lado do ribeirão, e flagrou a turma toda se locupletando com a comida proibida, que nem os deputados/senadores com o nosso dinheiro. Alarme dado, acordamos todos e fomos retirar o gado da roça. Gonzaga e as meninas, ainda muito pequenas, ficaram em casa e quando voltamos fomos brindados com uma panelada de leite temperado e broas de fubá. Deixem-me fazer justiça ao Gonzaga. Ele tinha só uns três ou quatro anos. Agora já não deve ser tão chorão assim. Se já tivesse jogado futebol contra ele, poderia responder com certeza.
Nhanhá era daquelas pessoas que emanam doçura. Virou tia Nhanhá para mim por causa da sua sobrinha. Tinha por ela o maior carinho. Mas, me penitencio, lhe dei muito pouco do meu tempo. Por que é que a gente sempre age assim? Gosta mas não demonstra. Admira mas não rende homenagens. Ama e não diz eu te amo.
Tia Nhanhá, muito obrigado por aquele fim de semana que se incorporou à minha vida!