quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MANUEL ABORDE

Quando ele chegou em Babilonia eu era menino e ele veio para terminar de construir a Igreja Matriz. Na verdade, ele sempre foi Joaquim Claudino Filho. Não sei de onde veio esse apelido. Nunca me lembrei de perguntar.
Seria uma corruptela de "a bordo"? Aquele que está sempre por dentro de tudo. Estar a bordo é igual a estar dentro do navio, portanto dentro. Transpondo o sentido, estar dentro é o mesmo que entender de tudo, saber fazer tudo. Diziam os antigos o homem dos sete instrumentos ou dos sete ofícios.
Mas isso não interessa. Só curiosidade. O que importa é que chegou aqui, se não me engano, trazido por Otacílio para dar conta de terminar a Igreja e terminou. Mais importante, virou marlierense. Obra da Ana? Da sua Ana?
Porque, chegando em Babilônia, ele encontrou a Ana. Lembro-me, no espaço que sobrara em frente da pequena parte que restara da Matriz antiga, as moças, de vestidos longos e rodados, se assentavam no gramado com a saia inflada pela anágua engomada cobrindo as pernas e os pés. Eu achava a coisa mais linda. E a mais linda delas era a Ana.
Logo comecei a ver os dois sempre juntos. Com o Otacílio na cola dele, daí ao casamento foi um pulo. Aí, não teve mais jeito. Casou com moça de Babilônia, vira babilônio. E virou.
Durante toda sua vida trabalhou no que queria ou cismava de querer. Criou família grande e bonita.
Um dia, já sem a Ana, conversando, porque gostava do seu papo, ele me confessou que ela tinha sido a mola de sua vida. Foi ela que o fez largar a boemia e acertar a cabeça. E agora que estavam reformando a casa. Que tinham planos de fazer um segundo andar, um apartamento só para eles, ela não foi partir e deixá-lo desanimado de continuar aquela empreitada?
E ficou triste. E naquele dia vi lágrimas em seus olhos e a voz se embargou quando falou nela. Era amor que o estava consumindo. Mas consumia só o corpo porque a alma, acreditando ou não, ele tinha a intuição que estaria vivinha para encontrar a alma da Ana, quando chegasse o tempo.
Esse tempo chegou. Quando olhei para ele na hora da despedida ouvi direitinho ele sussurrando, Courinha já achei a Ana. Agora está tudo perfeito. Felicidades eternas para vocês dois, Ana e seu Mané.

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