Meu padrinho arrumou para eu ir para Ponte Nova com Nanoca e Carmen para ser irmã. Mas meu pai e minha mãe não deixaram. Eu queria ser irmã de caridade. Ouvi essa história desde pequeno. Quer dizer que estou aqui por acaso. Graças ao Padrim Juca e Dindinha. Nunca fui tão grato aos meus avós...
Ela está aqui, na cadeira de rodas, me olhando com seu rosto sério, incomunicável. Me soprando o que devo escrever. Tinha verdadeira adoração por aquele padrinho. Morou em sua casa para frequentar as aulas na escola da tia Macrina.
A madrinha era a Isabel, irmã do pai dela. Só voltava para a casa dos pais nos finais de semana. Depois foi ficando. Aprendeu a costurar, bordar, quase a viver, na casa do padrinho. Chegou até a lecionar na escola da tia. Coisinha pouca. Só para marcar época na vida de alguns alunos. Nonô de Rolica e Jésus de Oliveira nunca se esqueceram. Sr. Jésus fala mesmo que gostava muito mais dela do que de sua própria irmã, Maria de Oliveira, que era muito má com ele. Era a vara que falava alto e tinha de se ajoelhar nos grãos de milho. Também era muito moleque. A Dininha era boazinha, não aplicava esses castigos. Nonô guardou, até hoje, um catecismo que ganhou de lembrança quando fez a primeira comuhão. Só se desfez dele por causa da insistência de um certo indivíduo.
Mas o padrinho marcou sua vida. E foi lá, em sua casa, que conheceu o impedimento maior de sua vocação religiosa. Onde rezavam o terço, à noite, antes de dormirem. E não gostava quando ele falava sobre o lado pitoresco desse hábito. Tentou incutir, não sei se com êxito, sua filosofia e senso de justiça: a cada um o que é seu. Sua bondade e coração mole de ajudar a quem precisasse e acolher todos debaixo de suas asas. Da tia Macrina tentou incorporar as prendas domésticas, a angélica capacidade de absorver as contrariedades, o supremo dom de apaziguar e a imensa paciência para aguardar a felicidade e o término da dor. Implantou a devoção de rezar o terço, à noite, também em sua família, que só durou enquanto os filhos eram pequenos.
Mas a devoção pelo padrinho, não. Essa permaneceu enquanto esteve lúcida. Talvez agora, ainda mais. Quando o olhar se perde no espaço vazio e as mãos se agitam vagamente, será que não está pedindo a bênção? Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, meu padrinho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário