sábado, 11 de abril de 2009

...O JUDAS VINHA... A REVOLTA DOS BOIS

E aconteceu o inimaginavel. Na procissao da semana santa a Veronica canta Oh vos que passais imaginai so a minha dor. Entao para vos que nao estaveis em babilonia, imaginai so o que aconteceu.
O judas vai... e o judas nao vem.
Quando a comitiva do judas passou era de se admirar a quantidade de seguidores. As crianças eram tantas que mais parecia uma correiçao de fomiguinhas, cada qual segurando sua sacolinha onde iam depositando as balas. Cantando versos do judas.
Na frente, iam os dois bois conduzindo o carro do judas. O carro de bois do judas. Uma junta. Nao precisava de mais. Judas e leve, mais um ou dois passageiros de companhia. Carga pouca. Que acostumados com maior peso. Carro cheio de milho ou carrego outro, mas pesado. Nem sentiam ter que despender maior esforço nessa missao. So o barulho e que incomodava. Algazarra muita e eles acostumados com o silencio e a tranquilidade de sua morada. Barulho, so o cantar do eixo do carro, os gritos eh boi e o chocoalhar da argola do aguilhao. Agora nao. Confusao demais e as orelhas tudo captam e os chifres parecem antenas que amplificam a zoeira.
Zico e Zeca, a principio calmos, começam a ficar inquietos. Nomes ficticios. Tal qual os de menor nomes e imagens nao podem ser divulgados. Associaçao protetora dos animais nao permite. Ja e demais a carga horaria a que sao submetidos. Imaginem, em pleno feriado eles trabalhando sem direito a horas extras.
Zico arrisca uma olhada de banda para o Zeca. Da-lhe uma lambada com a vassoura do rabo e espera sua reaçao. Que foi? Que ce ta achando da situaçao? Estranha, nao? Rummm... tambem nao estou gostando. Pra que sera toda essa balburdia? Essa o que? Balburdia. Que isso? Bagunça, confusao, anarquia. Ah, nao sabia de sua erudiçao. Tive um candieiro que nao largava um livro e lia em voz alta. Aprendi muito com ele. Me lembro dele. Mas enquanto ele falava aquelas coisas estranhas eu ficava ruminando meus pensamentos gramineos. A agua fresca do ribeirao e nao dava a minima para o que ele dizia. Pois e, agora nao entende o que digo. Nem tanto. Olhe, uma vez, num livro que ele lia, contava uma estoria de uma multidao assim ensandecida. Ensandecida? E, enlouquecida. Ah! E no fim da linha a coisa acabou em sangue. Nao diga, e se for pra haver sangue, advinha de quem? E nisso que estou pensando. Nao se lembra do Bim e do Bao? Apareceram uns caras e eles desapareceram. Vimos so as marcas de sangue no chao e aqueles dois couros espichados ao sol. Depois disso nos passamos a ser os unicos a puxar esse chiado interminavel. Agora voce nao ve que apareceram aqueles dois molecotes ja bem troncudos e que de vez em quando colocam aqui na nossa frente pra treinar. Acho que nossa aposentadoria ta chegando e sabe o que isso significa, nao? O mesmo destino do Bim e do Bao. So que comigo nao, violao. Que violao? Deixa pra la. Booooiiiii...
Acostumados com a ordem, estacaram. Zico retomou a conversa. To vendo que a presilha da canga ta quase soltando. Se a gente fizer uma pressao pra baixo e abaixar a cabeça nos podemos fazer essa canga cair e saimos livres. Mas estamos peiados um no outro. Nao tem problema. Nos podemos sair correndo juntos e escapamos desse destino ingrato. Na volta que e mais facil achar o caminho de casa. Pra casa e que nao podemos voltar. Temos de cair no mundo. Quando fizerem uma daquelas paradas para jogarem aquelas pedrinhas cheias de gritos e cantoria; e hora de cairmos fora. Rum...rum...
E nao deu outra. Assim que a comitiva retornou, Zico e Zeca trocaram um olhar enviezado-cumplice, baixaram as cabeças ao mesmo tempo. As presilhas se soltaram. A canga caiu e eles sairam em disparada. A confusao so nao foi maior porque estavam na frente de todos e nao tiveram de abrir caminho. Que dois pares de chifres dao muito medo a humanos nao acostumados. E como caminho outro nao ha atravessaram a cidade toda correndo, em par, como um casal de noivos, apos o casamento, direto para a lua de mel.
Todo mundo com cara de tacho. Os da organizaçao olharam praqui, olharam prali, soluçao melhor nao acharam. Galhardamente assumiram o lugar dos bois e o carro do judas, nao mais de bois, chegou ao seu destino na praça. Agora e so esperar a hora da leitura do testamento e tacar fogo no dito cujo. Isso se o judas nao fugir tambem.

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