sexta-feira, 24 de abril de 2009

LST CAP. I - O CAÇADOR DO SOL - Continuação.

E a ninfa do plecóptero, toda prosa, continuou sua falação:
_ È que eu estou prestes a completar esta fase da minha evolução e me transformar num lindo espécime da complexa cadeia alimentar da natureza. Acontece que, por um desses lances insólitos, de repente comecei a entender as coisas, em suma, acho que fiquei racional, como vocês humanos costumam dizer. Apesar de minha aparência física continuar como inseto, minha capacidade intelectual já ultrapassou a da humanidade.
_ Sem condições! Olhe só o seu tamanho. Não tem espaço para abrigar um cérebro nem de galinha, como vai ter mais capacidade que o nosso cérebro?
_ Você já ouviu falar em chip, tenho certeza. Pois é, a inteligência e a capacidade intelectual de vocês ainda estão presas ao sistema milenar de massa encefálica, neurônios, hormônios e outros ônios. A natureza me fez pular esta fase. Minha filha, eu sou chipado. Por que é que você está me ouvindo? Aliás, você não está me ouvindo. Eu me comunico com você por um sistema muito mais evoluído. Você me olha e entende minha mensagem. Tudo que você pensa eu capto imediatamente.
Grace pensou em desafiar a falastrice de seu interlocutor. Não vou responder. Quero ver se ele realmente lê meu pensamento. Que bichinho mais metido.
_ Que bobagem! É claro que sei o que você está pensando. Não é bem um desafio, é um teste. E é válido. Só que eu não sou metido. Tenho consciência de minha capacidade. Vou lhe explicar em detalhes nossas diferenças.
Deu uma contorcidinha, procurando se ajeitar no tiquinho de água que ficara na mão da menina. _ Sabe, eu preciso de água para sobreviver enquanto estiver nesse estágio de ninfa.
_ Você não engoliu essa história de eu ter um chip. Não é bem isso, não. Na verdade, não tenho chip nenhum. Foi só uma comparação. A revolução que o chip representou na eletrônica é semelhante à que representará na biologia essa concepção futurista de inteligência. Como pode ser isso, você está pensando, e porque foi acontecer num bichinho à toa desses e não num ser humano? Muito simples. Vocês humanos não têm a mania de usar os animais para suas experiências? Pois é, a Natureza aderiu à moda de vocês. Eu sou um dos protótipos. Não sabe o que é protótipo. Me cansa. Procure num dicionário, depois.
Grace não gostou da esnobada que recebeu daquele tipinho. Mas esse balde de água fria a trouxe de volta à realidade. O que será que esses dois estarão pensando? Levantou os olhos procurando-os e percebeu que eles estavam na mesma posição do início do seu diálogo com o inseto. Parece até que acabava de escutar o Carlim dizer que ela estava escutando um discurso. Foi como se as coisas que a ninfa lhe dissera estivessem dentro de sua cabeça. Como se fossem pensamentos seus. Na verdade, o tempo não havia passado. E o Carlim continuou:
_ Como é, Gracinha, vamos voltar? Você já achou seu bichinho. Agora jogue ele de volta na água, coitado. Senão ele vai morrer.
Foi só a Grace olhar para seu novo amiguinho e sentir seu apelo.
_ Não me deixe aqui. São muitos os predadores e eu preciso contar muitas coisas para você. Faça o seguinte, me leve com você. Só preciso permanecer na água por mais um tempo. Assim que acontecer minha metamorfose não haverá mais necessidade de me manter dentro d’água. Aí eu poderei voar. Mas agora eu estou correndo um risco muito grande. Numa dessas minhas piruetas aquáticas vou me agarrar a um ramo que esteja acima da superfície e aí aguardo minha transformação. Imagine só quanto risco estarei correndo. Poderei virar comida de pássaros. Quando eu, finalmente, virar um glorioso plecóptero, ainda não estarei seguro. Se cair na corrente, com minhas asas meio úmidas, acabarei na barriguinha de algum peixe. Vamos, arranje um recipiente com um pouco de água e me leve para sua casa.
_ Carlim, eu quero ficar com essa ninfa. Quero acompanhar sua evolução. Assistir o processo de sua metamorfose.
_ Está bem, princesa. Vou ver o que posso fazer. Se tivéssemos trazido uma garrafinha com água, agora seria fácil.
Saiu andando devagar às margens do ribeirão até encontrar uma touceira de inhame brabo. Com o canivete Victorinox, que ganhara de seu tio no dia do aniversário e do qual não se apeava nunca, cortou uma folha sem defeito, dobrou-a formando uma concha e apanhou um pouco d’água.
_ Pronto. Coloque sua preciosa carga aqui dentro e vamos embora.
_ Brigadim, Carlim. Quando você casar eu vou dançar muito.
_ Só se for comigo, beleza!
Ela olhou para ele e lhe deu um muxoxo que ele achou adorável.
_ Lá em casa tem um aquariozinho velho, encostado. Vou colocar água nele, umas pedrinhas no fundo igual aqui no ribeirão e vou colocar o pleco nele.
_ O, o quê?
_ O pleco, uai. Não é plecóptero? Então, pleco.

terça-feira, 21 de abril de 2009

LST - CONTINUAÇAO

Cap. I - O CAÇADOR DO SOL - continuaçao

Os três chegaram, à tardinha, ao local conhecido como piteiras. Era uma baixadinha toda verde de capim bom para o gado. O riacho escorria fazendo curvas caprichosas. Às vezes, sonolento, às vezes, saltitante entre as pedras arredondadas.
Olhando do alto da colina, por onde a estradinha chegava, parecia que alguém havia estendido um tapete, prendendo as bordas nas raízes das árvores da capoeira que circundava todo o vale. Depois, sem querer, distraidamente, deixou cair uma tigela cheia de leite que se espatifou em pedacinhos e escorreu tapete abaixo, carregando os caquinhos que foram se arredondando com o rola-rola e virou esse ribeirão que tomou gosto pela brincadeira e não parou mais de correr.
_ Onde foi que o bichinho falou com você?
_ Foi bem aqui, neste lugar, Carlim.
_ Mas nessa hora o sol estava bem forte, não estava?
_ E daí? O que tem o sol a ver com isso?
_ Tem tudo! O calor afetou você. Sua cabeça começou a doer. Você passou por uma modorrinha, deu uma cochilada daquelas que duram frações de segundo e essa história toda foi um daqueles sonhos instantâneos que a gente tem.
_ Não pode. A coisa foi muito real. Eu não perdi a consciência. O tempo todo eu estava vendo todo mundo ao meu lado.
_ Isso acontece. Mas aposto que agora, sem o sol, você não vai ouvir nenhuma voz estranha.
_ Aquele bichinho deve estar por aqui ainda. Vou olhar com atenção o fundo da água. Ele fica debaixo dessas pedrinhas redondas. De repente ele dá um salto, faz uma pirueta bem na superfície e mergulha de novo se escondendo debaixo de outra pedra.
_ Será que ele vem à superfície para respirar, que nem o peixe-boi que mora nos rios da Amazônia? Era a Márcia, querendo encontrar explicação pata tudo.
_ Sei lá, Márcia. Vocês é que estão estudando biologia. Pergunte pra sua professora, ou então pesquise e encontre a resposta.
_ Deixa de ser chato, Carlim! Perguntei só por perguntar.
Enquanto os dois irmãos quase se estranhavam, Grace, debruçada sobre o ribeirão, observava atentamente o escorregar lânguido das águas entre as pedras limosas. Espraiando-se logo abaixo, na areia que cobria o fundo, lugar dos animais pararem para beber. E as águas davam uma volteada como se estivessem olhando para trás, talvez esperando que as pedras as acompanhassem. Depois continuavam seu caminho roçando em outras pedras, neste jogo de sedução sem fim e sem êxito.
Foi quando, subitamente, como um corisco riscando o céu, um bichinho preto surgiu e desmergulhou em direção à superfície. Como num movimento reflexo, a mão direita da menina relampagou no espaço que a separava da água e capturou o serzinho com um pouco do líquido que ficou depositado na palma em concha.
_ Te peguei, danadinho! Quero ver se todos vocês falam ou se era só aquele do outro dia.
_ Adivinhe! Eu sou aquele mesmo do outro dia. E as anteninhas dele se mexeram como se estivesse gesticulando, que nem um italiano quando fala.
_ Mai god! - Desde que começara a estudar inglês, essa era sua expressão favorita – Carlim, Marcinha, venham ver o que achei aqui!
Chegaram rapidaente.
_ Isso é a ninfa do plecóptero, foi recitando a Márcia, você não se lembra?
_ Márcia, é o mesmo do outro dia!
_ Quem pode garantir?
_ Ele mesmo. Ele fala.
_ Ai, mai god, disse remedando a amiga, a coisa é mais séria do que estava pensando.
_ Você não acredita? Pois eu vou lhe fazer uma pergunta e você vai ver que não estou mentindo, E aproximando a boca da mão, perguntou carinhosamente ao seu refém:
_ Quem é você e o que estava fazendo aqui?
As anteninhas tornaram a se mexer e ela ouviu nitidamente.
_ Pra todo mundo que me vê eu sou apenas a ninfa de um plecóptero aguardando o fim desse estágio da minha evolução, mas, na verdade, eu sou a manifestação do espírito da natureza. Esse espírito pode se manifestar em qualquer ser que habite este planeta. E virando suas antenas para os amigos da Grace, não adianta eles ficarem me olhando com essas caras de assustados, porque eles não vão ouvir minha voz. Ela não é captada pelos ouvidos humanos. Só a alma é capaz de ouvir nossa voz.
Os dois já estavam intrigados com o jeito como a menina estava absorta na contemplação do animalzinho.
_ Que que foi, Grace?
_ Psit, ele está falando.
_ Pelo tempo e a atenção que você dispensa a esse projeto de besouro, ele deve estar fazendo um discurso, ironizou o Carlim.
Mas Grace não lhe deu a menor atenção. Estava concentrada naquele animalzinho de outro mundo. E de tal modo absorta que nem estranhava o fato de estar travando um diálogo com um ser irracional, como julgava serem os insetos.

domingo, 19 de abril de 2009

PHARMACIA EM BABILONIA

Ja havia escutado o boato. A Farmacia do Sr. Osni ia ser ativada. Realmente, ha algum tempo tenho-a visto com as portas abertas. Dia desses resolvi parar la e conferir. Confere. O Adao da farmacia, que ja tem um estabelecimento em Jaguaraçu, alugou a sala em que sempre funcionou a Drogaria Sao Jose do Sr. Osni.
Agora o mais importante e que ela esta do jeito que todos nos a conhecemos. Os mesmos moveis, a mesma disposiçao. E foi uma exigencia dos meninos do Sr. Osni. Achei o maximo.
Cinquenta e tantos anos atras, via aqueles armarios quase de cabeça pra baixo, deitado de bruços no colo de minha mae, para tomar a vacina antirrabica, por culpa de um cachorro que tinha la em casa e pirou e saiu mordendo todo mundo. Eram muitas doses e eu nao queria de jeito nenhum levar todas aquelas agulhadas. E interessante que naquele tempo sr. Osni ja vendia outros produtos como brinquedos e artigos infantis. Que nem as drogarias de hoje em dia. E foi so por causa de um cachorrinho que corria sobre rodas (corria sobre rodas é interessante - a pedidos vou abrir uma exceçao para o acento grafico do é) movido por corda acionada puxando seu rabo, que me submeti a todas aquelas injeçoes. Ganhei o cachorrinho no dia da ultima injeçao e quano cheguei em casa minha tia foi brincar com ele sobre um banco e ele caiu e quebrou uma das rodinhas. Mas brinquei muito com ele so com as duas rodas da barriga. Ia batendo a cabeça ou a traseira no chao, mas era divertido.
Ai, sugeri ao Adao colocar a venda uns brinquedos que podem atrair a criançada pra tomar injeçao e ganhar presentes.
Voltando ao tema, o Adao é gente fina. Atende com muita gentileza e esta formando seu estoque de remedios. Entao sua visita é importante ate para ajuda-lo a escolher o que vai ser procurado pelos clientes.
Prometi ao Adao que iria deixar essa nota no blog para dar ciencia aos meus leitores que agora podem encontrar la aquele remedinho esperto que pode ser necessario de repente.
Quero dar os parabens tambem a Carlos Alberto, Geraldo, Orminda e Ze Osni por terem tomado essa decisao de alugar o ponto e, mais importante, combinar de funcionar do mesmo jeito que era antigamente.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

LIVRO SEM TITULO - LST

Cap. I

O CAÇADOR DO SOL


Gracelaine acabara de responder ao Dr. Plecóptero, dando nota sete ao riacho em que ele estava hospedado.
Estava tudo tão confuso na cabecinha dessa menina de quase treze anos.
Durante a aula de biologia a professora inventou que deveriam fazer uma pesquisa de campo. Foram até o local chamado Piteiras para examinar a água do ribeirão que formava ali um pequeno açude onde adoravam brincar.
Deveriam observar as margens do riacho, o leito das águas, os arredores, anotando tudo que vissem e achassem interessante.
Foi aí que tudo começou.
Clarisssa, esse era o nome da professora, pegou uma peneira e raspou o fundo do ribeiro, trazendo areia, ciscos, folhas velhas meio apodrecidas e uns bichinhos que moravam naquele habitat, que era como a professora chamava os locais em que essas criaturinhas viviam. Ela falava até engraçado, terminando com um tate, habitate.
Nessa peneirada havia um bichinho estranho. Quando Grace viu o inseto, de cara ela cismou com ele. Tia Clarissa, que bicho é esse? Qual? Esse esquisito que está olhando pra mim!
Então, Grace viu a boquinha do bicho se mexendo. - Tia, ele fala? - É claro que não! - Mas eu ouvi direitinho ele dizer assim: Ei, professora, aqui embaixo, na peneira. - Você está sonhando, Laine. Esse animalzinho é a ninfa do plecóptero. Depois ele se transforma, sai da água e fica vivendo nas margens, escondidinho debaixo das pedras.
A professora só a chamava de Laine. Dizia que era mais bonito do só Grace. Parecia francês. Com ela, ou seria Gracelaine todo, ou, então, só Laine. Que podia fazer? Sentia-se até lisonjeada com o interesse da professora.
Mas Grace não escutava as explicações da professora nem percebia a presença de seus colegas. Ouviu perfeitamente quando o tal pleco não sei o quê perguntou: - posso ajudá-los em suas pesquisas? E ela mais que depressa respondeu: Claro. E ele foi em frente na sua falação: - Observei que vocês estão avaliando esse rio.
Para ele, tão pequenininho, aquele riachozinho era um rio de verdade. Mas ele continuava a falar: - Que nota vocês deram para esse trecho? Foi aí que Grace, quase sem querer, respondeu: - Nota sete.
_ Que foi, Laine? Perguntou Clarissa.
_ Nada, não! E voltou a prestar atenção nas explicações da professora.
Só que a cena do bichinho falando não saía de sua cabeça e ela se assustou com medo de estar ficando lelé da cuca.
Por fim a professora terminou a aula prática e todos voltaram para o colégio. Já era hora de irem para suas casas
A menina entrou na sala de aula desconfiada, olhando para os lados com o rabo dos olhos. Tinha certeza que os colegas estavam comentando as coisas disparatadas que ela acabara de falar lá na beira do regato.
Mas a professora liberou logo todo mundo para ir embora. Ela apanhou suas coisas e foi saindo de fininho, sem encarar nenhum colega. Apertou os passos para ver se conseguia sair na frente e não ter de responder nada a ninguém.
Já havia ultrapassado a ponte que ficava logo na saída do portão do colégio, quando ouviu que alguém vinha rápido atrás dela, quase correndo. Não quis se virar para ver quem era. Seria muita bandeira. Mas a pessoa já estava ao seu lado.
--- Gracinha, cê tá bem?
--- Tô, não. Minha cabeça tá doendo, pacas. Acho que é o sol.
--- Pode ser. Marquim me contou que ocê, na aula de campo, cismou que tinha um bichinho falando. Cê quer conversar sobre o que aconteceu lá na piteira?
--- Por quê? Cê acha que tou ficando doida?
--- Que nada. Acho que cê tava tirando um sarro com a professora.
--- Eu, não! Eu vi e ouvi direitinho tudo que aquele bichinho falou.
--- Às vezes, a gente acha que viu ou escutou alguma coisa, mas é só imaginação. Principalmente se a gente está distraído, pensando nalguma coisa diferente.
--- É, só que não foi nada disso, Carlim. Eu não tava sentindo nada. Estava prestando atenção no que a professora tava falando. Mas, na hora em que vi o tal bichinho, ouvi direitinho a voz dele.
--- E os outros, ouviram também?
--- Acho que não. Só eu que ouvi.
--- Esquisito!…
E Carlim ficou olhando para Grace. Naquela mistura de carinho, ternura e preocupação. Era alguns anos mais velho do que ela. Moravam na mesma rua e ela ia, algumas vezes, até sua casa, brincar ou estudar com sua irmã Márcia. As duas tinham mais ou menos a mesma idade e eram colegas de sala de aula.
Quando começaram essa amizade, ainda pequenas, nem prestou atenção naquela menininha de pernas finas, carinha de anjo sapeca, sempre sorrindo meio envergonhada, cobrindo a boca com a mão em concha por causa dos dentes irregulares, apesar de muito branquinhos como se estivessem sempre acabando de ser escovados.
Agora, de repente, acabava de perceber que ela se transformara. Aqueles cambitos viraram um par de pernas dignos de apreciação. Até o aparelho que usava nos dentes lhe dava um encanto especial e ela já sorria confiante. E quando ria era para valer, com a participação solidária de todos os trinta e dois que brevemente seriam apenas trinta, pois havia dois que estavam condenados. Os tais dentes do siso. Estavam apenas nascendo e já estavam empurrando seus irmãos como se fossem os donos daquela boquinha apetitosa.
__Carlim, cê volta comigo lá nas piteiras? Quero procurar aquele bichinho. Quem sabe, ele não pode estar lá ainda?
-- Bobagem, mas se ocê quiser, eu vou, sim.
-- Vou chamar a Márcia também. Ela viu o que aconteceu na aula.
Carlim soltou um suspiro de resignação. Preferia que fossem sozinhos, mas não ia dar bandeira. Tinha muito tempo para abrir o caminho do coração dessa menina.
-- Tudo bem. Depois a gente combina uma hora para irmos lá.
-- Eu vou falar com a Márcia, primeiro. Certo?
-- Certo! Até, então! ---------

UM NOVO LIVRO... QUE PREGUIÇA!..

Acho que se fosse baiano, nao seria mais preguiçoso. Comecei a escrever com um enredo mais ou menos bolado. De repente achei que nao ia ter graça e comecei outra estoria com a intençao de inserir a estoria original. Mas ja deve ter uns tres anos e a coisa nao anda. Agora com esse blog me acenderam umas lamparinas na cabeça, como dizem os mais velhos daquela novela. Se começar a publicar aqui, como se fazia antigamente. A maior parte dos romances eram publicados em jornais sob o forma de folhetins. Depois eram editados em forma de livros.
Entao, estou pensando em dividir o que ja esta escrito e ir colocando nesse blog.
Ainda nao tenho um titulo.
De tanta preguiça, vou so copiar sem mexer nos acentos. O que ja escrevi esta na ortografia antiga. Quero dizer, tem acentuaçao grafica. Mas o que for produzido de agora em diante vai ser na minha nova ortografia. Sem acento nenhum. A unica duvida e o e (verbo ser-3a pessoa) e o e (conjunçao aditiva). Existem colocaçoes em que tanto faz. Agora, quando nao da sentido de um jeito e so mudar para o outro que a coisa funciona. E bom para o leitor nao perder a atençao.
Ta decidido, vou começar hoje ainda.

sábado, 11 de abril de 2009

...O JUDAS VINHA... A REVOLTA DOS BOIS

E aconteceu o inimaginavel. Na procissao da semana santa a Veronica canta Oh vos que passais imaginai so a minha dor. Entao para vos que nao estaveis em babilonia, imaginai so o que aconteceu.
O judas vai... e o judas nao vem.
Quando a comitiva do judas passou era de se admirar a quantidade de seguidores. As crianças eram tantas que mais parecia uma correiçao de fomiguinhas, cada qual segurando sua sacolinha onde iam depositando as balas. Cantando versos do judas.
Na frente, iam os dois bois conduzindo o carro do judas. O carro de bois do judas. Uma junta. Nao precisava de mais. Judas e leve, mais um ou dois passageiros de companhia. Carga pouca. Que acostumados com maior peso. Carro cheio de milho ou carrego outro, mas pesado. Nem sentiam ter que despender maior esforço nessa missao. So o barulho e que incomodava. Algazarra muita e eles acostumados com o silencio e a tranquilidade de sua morada. Barulho, so o cantar do eixo do carro, os gritos eh boi e o chocoalhar da argola do aguilhao. Agora nao. Confusao demais e as orelhas tudo captam e os chifres parecem antenas que amplificam a zoeira.
Zico e Zeca, a principio calmos, começam a ficar inquietos. Nomes ficticios. Tal qual os de menor nomes e imagens nao podem ser divulgados. Associaçao protetora dos animais nao permite. Ja e demais a carga horaria a que sao submetidos. Imaginem, em pleno feriado eles trabalhando sem direito a horas extras.
Zico arrisca uma olhada de banda para o Zeca. Da-lhe uma lambada com a vassoura do rabo e espera sua reaçao. Que foi? Que ce ta achando da situaçao? Estranha, nao? Rummm... tambem nao estou gostando. Pra que sera toda essa balburdia? Essa o que? Balburdia. Que isso? Bagunça, confusao, anarquia. Ah, nao sabia de sua erudiçao. Tive um candieiro que nao largava um livro e lia em voz alta. Aprendi muito com ele. Me lembro dele. Mas enquanto ele falava aquelas coisas estranhas eu ficava ruminando meus pensamentos gramineos. A agua fresca do ribeirao e nao dava a minima para o que ele dizia. Pois e, agora nao entende o que digo. Nem tanto. Olhe, uma vez, num livro que ele lia, contava uma estoria de uma multidao assim ensandecida. Ensandecida? E, enlouquecida. Ah! E no fim da linha a coisa acabou em sangue. Nao diga, e se for pra haver sangue, advinha de quem? E nisso que estou pensando. Nao se lembra do Bim e do Bao? Apareceram uns caras e eles desapareceram. Vimos so as marcas de sangue no chao e aqueles dois couros espichados ao sol. Depois disso nos passamos a ser os unicos a puxar esse chiado interminavel. Agora voce nao ve que apareceram aqueles dois molecotes ja bem troncudos e que de vez em quando colocam aqui na nossa frente pra treinar. Acho que nossa aposentadoria ta chegando e sabe o que isso significa, nao? O mesmo destino do Bim e do Bao. So que comigo nao, violao. Que violao? Deixa pra la. Booooiiiii...
Acostumados com a ordem, estacaram. Zico retomou a conversa. To vendo que a presilha da canga ta quase soltando. Se a gente fizer uma pressao pra baixo e abaixar a cabeça nos podemos fazer essa canga cair e saimos livres. Mas estamos peiados um no outro. Nao tem problema. Nos podemos sair correndo juntos e escapamos desse destino ingrato. Na volta que e mais facil achar o caminho de casa. Pra casa e que nao podemos voltar. Temos de cair no mundo. Quando fizerem uma daquelas paradas para jogarem aquelas pedrinhas cheias de gritos e cantoria; e hora de cairmos fora. Rum...rum...
E nao deu outra. Assim que a comitiva retornou, Zico e Zeca trocaram um olhar enviezado-cumplice, baixaram as cabeças ao mesmo tempo. As presilhas se soltaram. A canga caiu e eles sairam em disparada. A confusao so nao foi maior porque estavam na frente de todos e nao tiveram de abrir caminho. Que dois pares de chifres dao muito medo a humanos nao acostumados. E como caminho outro nao ha atravessaram a cidade toda correndo, em par, como um casal de noivos, apos o casamento, direto para a lua de mel.
Todo mundo com cara de tacho. Os da organizaçao olharam praqui, olharam prali, soluçao melhor nao acharam. Galhardamente assumiram o lugar dos bois e o carro do judas, nao mais de bois, chegou ao seu destino na praça. Agora e so esperar a hora da leitura do testamento e tacar fogo no dito cujo. Isso se o judas nao fugir tambem.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O JUDAS VAI... O JUDAS VEM-2

Tao vendo so como e bom ter seguidores (no meu caso, so seguidoras ate agora). Quando resolvi escrever sobre judas tinha na cabeça o judas da babilonia. So que me perdi nas elocubraçoes filosopsicosociais do acontecimento e nao e que veio a Cristina me dar uma cutucada!
Temos que dividir essa estoria em AM e PM. Ante Maurilien e Post Maurilien. Ou AP e PP. Ante Piloloian e Post Piloloian. As variaçoes se referem as declinaçoes latinas. Cade o Tacao e o Helio de So Erico que nao me deixam mentir?
Entre AP e PP houve o TP. Tempo do Piloloia. Ai ja esta em portugues, nao ha variaçao declinatoria. Pra quem esta meio confuso diria TMP. Tempo do Maurilio Piloloia.
AP ou AM.
Essa festa do judas se perde nas brumas babilonescas da onça grande. Em tempos idos funcionava de outra forma.
Havia um tal de curral de nao sei o que. Por mais que apertasse o cerebro dos miolos nao consegui lembrar o nome desse curral. Os mais antigos devem se lembrar. Vou explicar pra que servia esse cural e a Flavia, minha seguidora caçula, vai ter a gentileza de perguntar ao seu avo, Raimundo de So Paulo, esse bendito nome.
Era um recinto onde prendiam os animais que ficavam soltos na rua. Os proprietarios desses animais tinham de pagar uma taxa para retira-los.
Pois e (voces estao conseguindo identificar a terceira pessoa do verbo ser em contraposiçao a conjunçao aditiva e? Na minha pirraça de nao usar acentos, as vezes acho que posso ser mal interpretado). Da quinta feira santa ate o sabado de aleluia essa taxa era revertida para a comissao do judas. E o que faziam, naquele tempo, nossos herois do BBJ (Big Brother do Judas)?
Batiam nos pastos da vizinhança e conduziam o gado para o curral. No outro dia, na maior cara de pau, iam receber as taxas dos proprietarios que esbravejavam uns, achavam graça outros, mas todos tinham de tirar o leite e pagavam para retirar as vacas. Passavam tambem de porta em porta pedindo contribuiçao para a queima do judas. E as pessoas davam. Quase nunca dinheiro. Mas frutas, guloseimas, bebidas que eram muito bem aceitas. Fabricavam o boneco e o queimavam na praça. Mas testamento ao dava para fazer. E as bebidas que ganharam? No fim da festa, era o judas queimado e os componentes da comissao totalmente bebados recebendo as admoestaçoes do padre e os narizes torcidos das maes, comadres das maes, namoradas, noivas e ate esposas. Que tinha nego casado que tambem nao resistia a uma boa farra.
Ai veio a epoca do TM.
Maurilio nao pedia ajuda pra ninguem. O ponto alto era a leitura do testamento do judas. Piloloia (era o apelido do Maurilio) passava o ano inteiro matutando nos versos que ia ler no sabado de aleluia. Tudo que acontecia era cuidadosamente anotado e virava gozaçao. Na fabricaçao da vitima ele aceitava colaboraçao. Mas ele era o protagonista maior da festa. Microfone na mao, ele ia desfiando as provocaçoes e fazendo desfilar os personagens que pisaram na bola.
Ficou tao arraigado na memoria popular seu versejar que depois de sua partida por, varios anos, Tarcisio de So Luiz Pega-Pega que herdou o microfone do Piloloia e a incumbencia de ler o testamento, utilizou muitos de seus versos entremeando os de sua lavra. Essa fase ja faz parte da PM ou PP. Seria a primeira fase PP. Que a segunda e atual fase PP esta se desenrolando ante nossos olhos e ouvidos.
Uma grande e acertada novidade foi a introduçao do passeio do judas, a tarde, instalado sobre um carro de bois, distribuindo balas para a garotada e arrebanhando uma multidao de acompanhantes. Os membros da comissao do judas animando o passeio e entoando versos acintosos contra o infeliz. E as crianças a cada ano se animam para acompanhar o judas e correr atras das balas atiradas de cima do carro de bois. Virou atraçao regional.
A noite, depois da Missa, na praça em frente da igreja, ha a leitura do testamento.
Este ano, uma novidade. O Marlifolia sera logo apos a queima do judas. Foi decisao inteligente que dara mais folego a festa. E fica uma data fixa para virar tradiçao atraindo visitantes e marcando mais um motivo para reencontro de quem se ausentou.
Entao fica nosso registro. Marilio Piloloia e o grande homenageado. Tarcisio nao pode ser esquecido e a turma que hoje promove e mantem a festa merece nossos aplausos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O JUDAS VAI... O JUDAS VEM

Cabeça pelada que o judas tem...

O saco de pancadas dos que so levam pancadas o ano inteiro. A malhaçao do judas e uma terapia coletiva. Muitos chefes, pais, colegas, inimigos e amigos estao ali representados. Muitas vezes inconscientemente. Para todos, no entanto, nao passa de uma brincadeira. Trata-se da ludoterapia. Brincadeira que ajuda no equilibrio psicologico. Afinal, nos todos nao passamos de crianças. Alguns, crianças crescidas. Outros, nem tanto. Mas crianças pedindo colo. Chamando pra brincar. A pedagogia nao descobriu que se aprende muito mais brincando do que falando serio? Homo ludicus. E brincando que a criança aprende a ser gente grande. Seria o caso de dizermos dize-me de que brincas e te direi o que seras. Porisso e que nao acho graça nenhuma nesses super-herois tristes, de capas vermelhas e arzinho de idiotas. Fantoches engalanados fugindo da realidade. Nao sou saudosista nem no meu tempista. Mas a brincadeira antiga que nao se ve mais de faroeste era mais produtiva. As crianças encarnavam herois de carne e osso fazendo estrepulias de gente. Era a mesma luta do bem contra o mal. So que usavam recursos que estavam ao seu alcance. Ninguem voava. Ninguem tinha superpoderes. Era mais realidade.

Nem me venham com o velho cliche de que essas brincadeiras, tanto as de hoje como as de ontem, estimulam a violencia. Bobagem. O que estimula a violencia e a traiçao, a mentira, os sete pecados capitais.

O judas passou a representar a encarnaçao do mal que deve ser perseguido e destruido exatamente porque ele virou a personificaçao da traiçao. E isso que a humanidade abomina, ou deveria.

Judas e o politico traidor da espectativa popular. E o patrao desumano e opressor. E o mau profissional corrupto e corruptor. Mas e um pouquinho de cada um que grita contra a corrupçao quase institucional de nossa sociedade e nao se peja de dar uma bola para nao levar uma multa. De comprar um produto pirata. De nao respeitar um engarrafamento de transito e ir furando a fila dos que aguardam uma soluçao democratica.

Mas, no sabado de aleluia que minha vo dizia carne no prato e farinha na cuia, fogo no judas e nas nossas mesquinharias de seres menos nobres. E como a Fenix ressuscitar das cinzas, novinhos em folha abandonando o maximo que pudermos dos defeitos queimados junto com o judas.
Ressurreiçao e assunto de Cristo. Ele ressuscitou alguns e usou o remedio em si proprio. Mas a queima do judas nao deixa de ter o seu simbolismo. Queimar o mal, a traiçao, a hipocrisia, a mentira, a ganancia por trinta dinheiros e procurar ser cada dia um pouco melhor.
Por isso que eu gostava de brincar de faroeste. A gente sempre prendia os bandidos e nao tinha nenhum gilmar mendes para solta-los. So o fim da brincadeira.