ULTIMA HOMENAGEM A TIO RAIMUNDINHO
Tio Raimundinho, não sei se tenho
propriedade pra falar do senhor,
mas vou tentar.
Tive o privilégio de conhecê-lo e poder conviver
ainda que por muito pouco tempo pelo meu querer
e agora vou dizer
o que de você me deixou transparecer.
A mim me parecia um menino
ainda que crescido, mas nem tanto
seu olhar travesso, apesar de tímido,
quietinho no seu canto.
Aqueles olhos miúdos, mas espertos
viviam sorrindo, contentes,
querendo sempre agradar a gente.
Dizia que seus presentes eram simples, modestos,
mas não percebia quanto nos rendiam esses pequenos gestos.
O grande valor da vida está exatamente nos pequenos atos,
e que na maioria das vezes não percebemos de imediato.
Culpa dos atropelos do dia a dia,
mas ele fazia o que podia.
Muitos aqui o conheciam, na sua Fazenda todo dia,
Pera lá. Fazenda? Fazenda sim senhor,
Fazenda de garapa, de rapadura, de melado
e de amor.
Que alguns mal esperavam sair do tacho para se lambuzarem.
Botava o papo em dia, enquanto trabalhava
sempre com os amigos que por lá passavam.
Depois da tarefa terminada, sua rapadura oferecia,
e quem já conhecia, de imediato comprava,
o que muito o agradava, pois assim entendia
que o trabalho compensava.
Alguém já disse uma vez: "É nos pequenos frascos que se encontram os melhores perfumes". Perdemos hoje dessa geração de nove irmãos: Rita, Dina, Zito, Luis Tenente, Nicolau, Arsênio, Bebé, Nazinha e tio Raimundinho, o último dos "mói-canas".
Não Teremos mais do tio Raimundino, na sua deliciosa fazenda, a garapa a rapadura e o melado. Mas, com certeza, continuaremos nos lambuzando nas doces lembranças de seus pequenos gestos repletos de grande carinho e amor.
Um grande abraço e um grande beijo, já que a sua torcida do céu foi mais aguerrida que a da terra. Resta-nos nos contentarmos com as boas lembranças e a imensa saudade que vai deixar.
Quero finalizar, se conseguir... se não conseguir, tenho certeza que todos aqui poderão me ajudar, prestando-lhe uma homenagem, cantando uma música que tem tudo a ver com a sua vida, segundo o meu entendimento. Peço perdão se não fui de todo justa, mas tenho a certeza que neste momento cada um aqui presente estará lhe prestando uma homenagem, lembrando-se daquilo que não pude viver ou contar.
Debulhar o trigo,
recolher cada bago do trigo.
Forjar no trigo o milagre do pão.
Decepar a cana,
recolher a garapa da cana.
Roubar da cana a doçura do mel.
Se lambuzar de mel.
Afagar a terra,
conhecer os desejos da terra,
cio da terra, a propícia estação
e fecundar o chão.
(Dilma, toda emocionada na despedida do tio Raimundinho, em 15 de junho de 2011).
quinta-feira, 16 de junho de 2011
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