segunda-feira, 15 de março de 2010

FILA PRA TUDO

Vocês já experimentaram, por exemplo, parar em algum lugar movimentado e fixar a vista em algum ponto distante? Pode ser num prédio, num ponto perdido no espaço ou nalguma aglomeração? Rapidamente vão se juntando outras pessoas perto de você tentando focalizar o que você estaria olhando. É batata! Nunca fiz a experiência mas já me garantiram que é verdade.

É a famosa curiosidade, que não é só feminina. É humana.

Mas por que isso agora?

Dia desses estávamos parados na fila de espera da construção do gasoduto. Como existem coisas irritantes! Meu colega do lado da fila, que essa é uma fila dupla, tripla, quíntupla, comentou que coisa injusta. Esse gasoduto vai favorecer algumas grandes empresas e nós todos temos que pagar o pato. Não dá para entrar na justiça contra esse abuso? Dá, mas quando você tiver uma manifestação da deusa Têmis acho que o gás que vai passar por esses tubos já estará esgotado.
Só que outras considerações me assaltaram o cérebro. Parece que a fila é uma instituição nacional. Aliás, dizem os mais viajados, que do mundo todo. Talvez, em algum paraíso mais bem organizado, não exista fila, ou elas seriam mais organizadas.
Se a fila é para organizar a prestação de serviços, por insuficiência organizacional ou quantitativa de prestadores desse serviço, deduzir-se-ia que fila é uma coisa organizada. Mas não é. Não sei se só no nosso querido país, ou se em todo o mundo. Com a palavra os internacionais.
Mas o problema é mais em cima, não em baixo. É na cabeça. Ou melhor, na personalidade. Não sei em que parte do corpo fica localizada essa atribuição.
É só você parar seu carro na fila direitinho. Atrás do que parou na sua frente que vem um passando pelo acostamento, procurando um espacinho para entrar. E vão entrando na cara de pau. Se você não quiser ser batido que dê espaço. Quando se libera o trânsito é aquela debandada geral. Conclusão. Quem parou no seu lugar, em ordem de chegada, vai ficando para trás. Os avançadores de filas vão pela esquerda e se enfiam na frente das carretas que largaram dentro dos limites que a física lhes proporciona e são obrigadas a parar para não os esmagarem. E os que estão seguindo dentro da organização que a fila proporciona ficam prejudicados no seu direito de avançar.
Quem pode resolver isso?
As professoras e professores nas gerações que estão chegando agora. Porque os pais não tem essa capacidade. São eles que cometem essa falta de educação e com os filhos dentro dos carros. Quer dizer, não existe exemplo a ser seguido a não ser os maus.
Mas o meu neto de cinco anos, aos três já me ensinava. Verde pode passar, vermelho é para parar. E o amarelo? É minha cor preferida, então é para ter cuidado. Mas nem todos os netos também são iguais. Então bola pra frente... mas pode ficar indignado que não dá enfarto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

NANÁ

Só tenho escrito a respeito de pessoas que já tomaram o elevador. Mas preciso fazer pelo menos uma exceção. Preciso falar da Naná.
Está aqui, sentada no sofá, vendo novela e vibrando quando há alguma cena movimentada. Tipo briga entre os personagens, correria. Se há beijos ela comenta já começou a beijação. Antes dizia a lambeção. Não sei se alguém a orientou sobre o comentário mais adequado, ou se foi ela mesma que resolveu mudar.
Se ligo o laptop, para ela estou escrevendo. Escreveu muito hoje?
Nos seus 6/7,54 anos. Explico. Cinquentinha cronológica e seis ou sete mental. Há já um bom tempo que estacionou nessa idade. Isso os médicos já haviam avisado. Mas minha mãe não se conformava. Até atrás de milagres ela chegou a ir. Houve uma sepultura de um padre em Goiabal que começou a minar água. Minha mãe, com toda dificuldade, de carroceria de caminhão levou a Naná para ver se o padre dava um jeito.
Não se descobriu se foi algum problema no nascimento, na gestação ou falha em algum cromossamo. Nascia-se em casa, sem a menor assistência médica. Nem havia acompanhamento pré-natal.
Poucas coisas a atraem. A não ser as novelas. E quer novela a qualquer hora. Não tem a menor noção do tempo. Se o relógio da sala bate na hora do almoço ela já deduziu que é meio dia. Mas fora desse horário, não tem como.
Agora, durante o JN, foi lavar as vasilhas do jantar que acabamos de comer. Vibrou com o ovo frito que fiz na água. Aprendi a colocar um pouco de vinagre na água para o ovo não agarrar no fundo da frigideira e ela achou o máximo. Mamãe também fritava ovo na água, mas ela não sabia que precisava colocar vinagre. Mas o ovo agarrava? Agarrava não. Sei lá...
Tem umas frases feitas. Hoje tá fresco, né? Acabou de passar e falar. Gosta muito de falar que o tempo mudou para chuva, tenha sol ou não. Toda manhã quer saber se choveu. Às vezes quer que eu dê conta se alguém está em casa ou não. Se o cachorro late quer saber o porquê.
Mas tem algumas convicções. Quero morar nesta casa que meu pai e minha mãe deixaram para mim. Se fica irritada também se esquece da sua escolha e a casa pode cair. Porcaria de vida. E outras coisas menos edificantes.
E assim vamos levando a vida. Ela e nós, seus irmãos. As únicas pessoas que restaram para viver com ela e procurar dar-lhe uma qualidade melhor de vida. Para começar já conseguimos fazê-la frequentar a ginástica da terceira idade. Ela que é uma mistura de todas as idades.