quinta-feira, 9 de julho de 2009

PADRIM HENRIQUE E TIA MACRINA

Meu padrinho arrumou para eu ir para Ponte Nova com Nanoca e Carmen para ser irmã. Mas meu pai e minha mãe não deixaram. Eu queria ser irmã de caridade. Ouvi essa história desde pequeno. Quer dizer que estou aqui por acaso. Graças ao Padrim Juca e Dindinha. Nunca fui tão grato aos meus avós...
Ela está aqui, na cadeira de rodas, me olhando com seu rosto sério, incomunicável. Me soprando o que devo escrever. Tinha verdadeira adoração por aquele padrinho. Morou em sua casa para frequentar as aulas na escola da tia Macrina.
A madrinha era a Isabel, irmã do pai dela. Só voltava para a casa dos pais nos finais de semana. Depois foi ficando. Aprendeu a costurar, bordar, quase a viver, na casa do padrinho. Chegou até a lecionar na escola da tia. Coisinha pouca. Só para marcar época na vida de alguns alunos. Nonô de Rolica e Jésus de Oliveira nunca se esqueceram. Sr. Jésus fala mesmo que gostava muito mais dela do que de sua própria irmã, Maria de Oliveira, que era muito má com ele. Era a vara que falava alto e tinha de se ajoelhar nos grãos de milho. Também era muito moleque. A Dininha era boazinha, não aplicava esses castigos. Nonô guardou, até hoje, um catecismo que ganhou de lembrança quando fez a primeira comuhão. Só se desfez dele por causa da insistência de um certo indivíduo.
Mas o padrinho marcou sua vida. E foi lá, em sua casa, que conheceu o impedimento maior de sua vocação religiosa. Onde rezavam o terço, à noite, antes de dormirem. E não gostava quando ele falava sobre o lado pitoresco desse hábito. Tentou incutir, não sei se com êxito, sua filosofia e senso de justiça: a cada um o que é seu. Sua bondade e coração mole de ajudar a quem precisasse e acolher todos debaixo de suas asas. Da tia Macrina tentou incorporar as prendas domésticas, a angélica capacidade de absorver as contrariedades, o supremo dom de apaziguar e a imensa paciência para aguardar a felicidade e o término da dor. Implantou a devoção de rezar o terço, à noite, também em sua família, que só durou enquanto os filhos eram pequenos.
Mas a devoção pelo padrinho, não. Essa permaneceu enquanto esteve lúcida. Talvez agora, ainda mais. Quando o olhar se perde no espaço vazio e as mãos se agitam vagamente, será que não está pedindo a bênção? Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, meu padrinho!

terça-feira, 7 de julho de 2009

CISCANDO DAQUI E DALI...

Estou abismado com a minha falta de comprometimento com esse blog. Já está quase completando outro mês sem postar nada. E o número de seguidores andou sofrendo alteração. Já são quatorze. Mesmo se tirar aqueles seguidores de carteirinha, ainda existem muitos amigos que devem estar quase se arrependendo de terem se cadastrado. Vou prometer ser mais presente dagora pra frente.

Mas hoje quero falar de uma lição de vida. Quando a "gente era criancinha pequenininha lá em Barbacena" - alguém ainda se lembra desse bordão? ( pergunta endereçada a uma parte dos leitores, tipo meia idade) - os dias, meses e anos tinham uma preguiça bahiana de se sucederem, parecendo certo escrivinhador de blog. E a gente doido para o tempo passar e chegar os quatorze, os dezoito e até os vinte e um anos. Impróprio para quatorze, para dezoito. Carteira de motorista. Namorar. É, tinha idade até para namorar. Engraçado. A gente não podia namorar, mas não havia jeito de proibir a gente de se enamorar.
Era só entrar na fase do vinte e um e os anos começavam a disparar. Vinte e cinco, mais ou menos. Trinta, já dá pra ficar desconfiado. Quarenta, cinquenta. Nossa, nem vi o tempo passar. Como se o tempo passasse... modo de dizer. E se começa a não querer embarcar nessa onda. Uns se escondem. No trabalho, nas lamentações. Mas, felizmente, tem gente que encara. Tipo aquela poesia de Olavo Bilac que todo mundo recitava no nosso antigo primário. A árvore. Olavo Bilac. No finalzinho envelhaçamos como as árvores envelhecem, Quer dizer, dando pelo menos sombra, pois frutos não podem dar mais. Ainda bem que o Bilac não se lembrou de falar em lenha. Vejam como o poeta era, já naquela época, um grande ecologista. Porque tem também o lance dos ninhos de passarinhos.
Pois é, Outro dia nos demos de cara com uma árvore do Olavo Bilac. Árvore no futuro. Agora ainda é um arbusto, que árvores de lei chegam aos duzentos, trezentos e tal. Existem algumas com mais de mil. Matusalém floral.
Inai chegou aos sessenta fazendo festa. Dizendo alto e bem sonante que agora é que vai começar mesmo a viver. Missão bem encaminhada. Sem obrigatoriedade de horários. Tempo de colheita. Carinho de irmãos, filhos e sobrinhos, sem esquecer dos primos e amigos.
Vejam que interessante. Inai nunca vai ficar velha, nem idosa. Se você passa pelo tempo sem deixar que as rugas se agarrem na alma, não tem como sentir as suas tão famosas marcas. Mas ela é predestinada até no nome. I N A I. O A é a peça chave. Observem que esse A pula o N e ela fica INAI de trás pra frente. E de qualquer lado que se olhar é INAI, enquanto esse A entrar na brincadeira e continuar pulando o N pra frente e pra trás.
Parabéns, Inai, e obrigado pela lição. A partir de agora também sou um jovem sexagenário.